Se não houver acordo entre médicos e o Governo, a Urgência de Cirurgia Geral do Hospital de Braga só vai estar aberta dois dias no mês de novembro.
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Num comunicado a que o JN teve acesso, os médicos garantem que, por causa da recusa de fazerem mais do que 150 horas extraordinárias, em novembro, a urgência externa vai estar encerrada "28 dos 30 dias disponíveis". Vinte e um médicos especialistas e 10 internos entregaram à administração hospitalar a declaração de recusa de realização de mais de 150 horas suplementares.
Por causa disso, garantem os clínicos, "desde o dia 1 de outubro, a urgência de cirurgia geral esteve encerrada ao exterior, mantendo apenas residência interna com dois médicos, em 14 dos 31 dias".
"Estamos a sofrer todo o tipo de pressões por parte dos nossos superiores hierárquicos e estamos a receber ameaças de processos disciplinares", afirmou uma médica. "Esta tomada de posição não foi feita de ânimo leve, uma vez que acarreta fortes constrangimentos para o funcionamento do serviço, mas é tida como necessária, e mesmo tardia, para melhorar as nossas condições de trabalho, a qualidade dos cuidados prestados aos doentes e a sustentabilidade do SNS", refere o comunicado que traça o ponto de situação da urgência cirúrgica no Hospital de Braga.
Os médicos condenam também a criação de uma "regra" que exige "a observação pelo Cirurgião Geral presente no Hospital de Braga de todos os doentes cirúrgicos antes da sua transferência para Cirurgia para o Hospital São João, no Porto". De acordo com os especialistas, o S. João recusará "receber quaisquer doentes cirúrgicos sem observação prévia por um Cirurgião, independentemente do caráter urgente ou da situação clínica e estabilidade do doente".
"Foi-nos dado conhecimento mais tarde que seria um acordo entre administrações dos respetivos Hospitais", salienta o documento. Os cirurgiões de Braga pedem reciprocidade nos procedimentos já que, nos dias em que a urgência bracarense está aberta ao exterior, chegam doentes "de outros Hospitais com urgência encerrada, nomeadamente da ULSAM de Viana, HSMM de Barcelos, CHMA Famalicão, Hospital Guimarães, sem qualquer observação prévia de um cirurgião desse hospital". E finalizam: "não podemos pedir avaliação por uma especialidade que não está presente".
Questionado pelo JN, a administração do hospital refere que "por motivos da redução de equipa do Serviço de Cirurgia Geral, em certos períodos, poderão existir alguns condicionamentos, não comprometendo, porém, a resposta aos utentes que recorram ao Hospital". Refere ainda que, para garantir o atendimento de todos os utentes, particularmente das situações urgentes e emergentes, "a equipa que se encontra de urgên cia continuará a acorrer às solicitações que lhe forem efetuadas, quer do interna mento, quer do serviço de urgência, apenas na estrita medida da prioridade clí nica, e não com base no local onde o doente se encontra, precisamente para não colocar em risco o atendimento aos utentes prioritários".