Projeto arrancou há um mês no Porto e usa sistema criado pelo INEM, que permite partilha de dados em tempo real.
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Há um mês que o Hospital de S. João, no Porto, tem a funcionar um projeto único no país que permite ao serviço de urgência conhecer o utente, em situação de emergência, ainda antes de ele chegar ao hospital. Isto graças a um sistema desenvolvido pelo INEM que permite a partilha de toda a informação clínica do paciente, em tempo real, entre a equipa que está a assisti-lo, logo após a chamada para o 112, e a que vai recebê-lo no hospital.
"Este tipo de abordagem é absolutamente corrente em tempos modernos: dar o melhor a cada doente e tão precocemente quanto possível", resumiu Nelson Pereira, diretor do serviço de urgência do S. João, estimando que se "ganha em organização (contabilizado o tempo de intervenção no terreno, seguido do transporte para o hospital) entre 35 e 40 minutos por doente".
"Este sistema só funciona se o utente que está a precisar de ajuda, no caso de uma situação clínica grave, ligar o 112. Infelizmente, a grande maioria chega ao hospital pelo próprio pé"
Na prática, "quando chamada a uma ocorrência, a equipa do INEM insere no iTeams (aplicação de registo clínico utilizada) informações sobre o doente - desde sinais vitais, como a avaliação da tensão arterial, a dados pessoais, como o número de utente do Serviço Nacional de Saúde - e essa informação está a ser partilhada, em tempo real, com o Centro de Orientação de Doentes Urgentes do INEM e com a equipa do serviço de urgência do Hospital S. João", explicou ao JN Filipa Barros, médica do departamento de emergência médica do INEM e responsável pelo iTeams.
Ciente de que "a primeira causa de morte em Portugal é a doença cerebral cardiovascular", Filipe Macedo, diretor da cardiologia do S. João e diretor do Programa Nacional para as Doenças Cérebro-Cardiovasculares da Direção-Geral da Saúde, só vê vantagens neste novo sistema: "Isto é um ganho muito, muito importante! Ao diminuir o tempo de espera dos doentes, estamos a contribuir para diminuir também a mortalidade".
"Este sistema vai fazer com que tudo seja mais rápido e isso fará com que tenhamos menos complicações, menos sequelas, e uma coisa fundamental que é menos mortalidade"
rede alargada
Mais: "durante a semana as equipas estão no hospital em permanência, mas aos fins de semana estão em casa e com este sistema passam a ser ativadas de forma a chegarem ainda antes do doente", salientou o especialista. Nelson Pereira destacou ainda o facto da informação partilhada poder ser acompanhada também "no telemóvel do médico, pondo da mesma forma todo o processo de receção ao doente em marcha".
"Desde 2020 todos os meios do INEM trabalham com este sistema informatizado, e no último ano chegamos a 80 corporações de bombeiros e da Cruz Vermelha", referiu Filipa Barros. A expectativa é chegar "a muitas mais", porque será lançado "em meados deste ano um aplicativo para telemóvel".
Repto
"O ideal era que isto se tornasse nacional"
Filipa Barros recordou que "há quatro anos" a informação agora partilhada em tempo real chegava aos hospitais em papel. Hoje em dia, já está informatizada, mas os dados só se conseguem ver depois do doente chegar ao hospital. Para o projeto do S. João se replicar por outros hospitais, a médica diz que "só é preciso vontade". "O que disponibilizamos ao S. João para se integrar, forneceremos a qualquer outro hospital que assim queira". E concluiu: "O ideal era que isto se tornasse nacional, com um sistema único, através dos serviços partilhados do Ministério da Saúde". Enquanto isso, a meta para este ano é "colocar cada vez mais corporações de bombeiros no registo informatizado".