Miranda do Douro criou um seguro de saúde gratuito para colmatar problemas no acesso a consultas e exames médicos.
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Farta de tanto esperar por uma consulta na extensão de saúde de Sendim, Maria de Fátima Teresinha, 74 anos, decidiu aderir ao serviço de saúde municipal da Câmara de Miranda do Douro, que começou a funcionar este mês. “Vou experimentar. Pode ser que seja bom”, conta a mulher, que foi pela primeira vez à consulta de clínica geral no novo serviço gratuito para os residentes no concelho, que vai custar 690 mil euros aos cofres da autarquia em dois anos. “Apanhar consultas no centro de saúde de Sendim para a médica de família é difícil. Demoram mais de dois meses a marcar, e depois são adiadas, ou porque os médicos estão em greve ou por outros motivos. Acabam por marcar para nova data, mas sempre a demorar dois ou três meses. Não dá para estar meses à espera do Serviço Nacional de Saúde”, lamentou a idosa que para apanhar vez na consulta aberta chegou a ir às cinco da madrugada para a porta da extensão de saúde. Agora aderiu ao serviço municipal onde é atendida pelos mesmos médicos do centro de saúde de Miranda do Douro.
O acesso a exames complementares de diagnóstico é ainda mais complicado, porque no concelho apenas é possível fazer análises clínicas ao sangue, obrigando a viagens a Bragança (80 km), Mirandela (120 km), ou para fora do distrito, com uma rede de transportes públicos deficitária.
Com a adesão ao seguro os utentes são transportados gratuitamente à Casa de Saúde de Viseu, com a qual a Câmara estabeleceu parceria. “Há consultas que são realizadas aqui em Miranda do Douro, por dois médicos, duas vezes por semana, para aos quais os utentes podem ser encaminhados pelos médicos de família ou não. As consultas e exames são realizados em Viseu ou na Guarda, sempre que necessário”, referiu a presidente Helena Barril. Para colmatar as dificuldades de acesso aos cuidados de saúde primários, a Câmara criou o seguro “Miranda Saudável”, que dá acesso a consultas e exames de diagnóstico gratuitos.
Já aderiram 323 utentes
As consultas realizam-se às quarta e sexta-feira num espaço da junta de freguesia, mas está a ser ultimado um local próprio só para esse efeito. “Não é nosso objetivo substituirmo-nos ao SNS. O centro de saúde existe e esperamos que continue e funcionar com normalidade, mas tem havido problemas com o aceso à consulta aberta e as greves dos médicos não têm ajudado”, explicou a autarca.
Até ao momento já aderiram ao cartão 323 utentes, foram realizadas 44 consultas e transportadas cinco pessoas a Viseu. Tem havido uma média de 13 utentes por dia.