Reabilitar mercado custou mais 15% do que o previsto, mas intervenção total inclui desvio da linha de água, compra de caves e indemnizações.
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É, para já, uma tela cinzenta à espera da cor das flores, frutas e legumes que os comerciantes para lá vão levar a 15 de setembro. Depois de quatro anos de obras, a "Operação Bolhão" que, além da empreitada de restauro do edifício do mercado, incluiu o desvio da linha de água, compra de caves, indemnizações, entre outros, custou, no total, cerca de 50 milhões de euros. A obra propriamente dita, orçada em 22,3 milhões de euros, ficou 15% mais cara: 25,7 milhões de euros.
Há ainda alguns pormenores a acertar com alguns comerciantes e foi o próprio presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, a admiti-lo. "Há os que gostam mais, há outros que têm preocupações e outros que dizem que, se calhar, a sua banca deveria ser um pouquinho maior. Porquê? Já não se lembram das bancas que aqui tinham. Foram para o Mercado Temporário e lá temos um espaço enorme. Mas acho que estão esperançadíssimos, cheios de saudades disto e querem voltar. E agora já perceberam que vão voltar", afirmou o autarca, admitindo que, quando viu a obra pronta, inundou-se um "brilho nos olhos".
Regresso a casa
Quem entra pela Rua Formosa no mercado reabilitado, é de imediato surpreendido pela fonte que para lá foi deslocada. De cada lado, estão dois exemplares das bancas originais do espaço, inaugurado em 1914. À frente, no centro, está a zona dos frescos, com 81 bancas. Dessas, 59 estão reservadas para os "comerciantes históricos", explicou a arquiteta Cátia Meirinhos, da GO Porto. No centro ficam as frutarias, floristas, e outros produtos, enquanto as bancas do peixe cobrem o lado correspondente à Rua de Alexandre Braga. Do lado oposto, ficam as carnes e no piso superior a restauração.
Cátia Meirinhos realça a formação que foi dada aos comerciantes sobre como utilizar a internet e as redes sociais e, além disso, foram criados 4497 produtos, divididos em 22 categorias. O objetivo foi oferecer aos comerciantes uma "atividade mais rentável". Muitos vendiam ímanes e camisolas do Cristiano Ronaldo, que não estavam licenciados.
Criptopórtico e cave
Por entre as ruas do mercado agora batizadas, à entrada de uma das zonas de arrumos pode ver-se um criptopórtico do início do século XIX. O elemento, destacado pelo arquiteto Nuno Valentim, é um vestígio do viaduto que ajudou a rasgar a Rua de Sá da Bandeira. Mas a maior novidade do Bolhão, e também a peça chave para a garantia da qualidade dos frescos, é a cave logística. Tem capacidade para mais de 15 estacionamentos, elevador monta cargas, câmaras frigoríficas, balneários e vestiários. Mas construir o túnel de acesso obrigou à compra de duas caves de dois edifícios da Rua Formosa, cuja artéria fica imediatamente acima.