Miguel Lacerda, velejador presidente da Associação Ambiental Cascaisea, filmou uma interação pacífica com orcas enquanto seguia num semirrígido ao largo da Fonte da Telha, em Almada.
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A interação deu-se esta terça-feira, dois dias depois de um veleiro ter sofrido danos no leme ao largo do Cabo Espichel, em Sesimbra, fruto de uma interação com um grupo de orcas.
No vídeo publicado nas redes sociais, Miguel Lacerda dá conta que a interação com o grupo de cinco orcas durou cerca de 20 minutos e que chegaram a aparecer golfinhos junto destes animais. O presidente da Associação Ambiental Cascaisea descreve que a interação decorreu às 14.45 horas a duas milhas da Fonte da Telha quando seguia a bordo do semi rígido Clean the Sea com outro tripulante.
"Um dos indivíduos era adulto de grandes dimensões, um intermédio e três mais jovens, sendo um muito pequeno. Avisámos as autoridades marítimas para que fosse feito um aviso à navegação. Assim que observámos as orcas percebemos que estas vinham ao nosso encontro, mostrando o habitual interesse e curiosidade pela embarcação e sua deslocação", descreve Miguel Lacerda.
"Mantivemos um rumo a uma velocidade entre 7 a 8 nós, não desligámos qualquer instrumento de navegação e o grupo de orcas curiosas, como qualquer golfinho aproximou-se. Logo que chegaram perto da embarcação começaram a acompanhar-nos no mesmo sentido (não muito distantes de nós).
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"As emersões eram exageradas (talvez também pelo cachão que se fazia sentir), mostrando sempre toda a cabeça (e olhando para nós) mas sem qualquer comportamento ameaçador. Aquilo que costumamos ter com os golfinhos", prossegue. O grupo acabou por dispersar ao fim de 20 minutos, pouco depois dos golfinhos terem feito o mesmo.
Dois dias antes, no domingo, ao largo do Cabo Espichel, em Sesimbra, um veleiro com 12 metros que fazia o percurso entre Portimão e Cascais sofreu danos no leme durante uma interação com um grupo de orcas. Luís Oliveira, velejador de Sintra, com 35 anos, que estava com um outro tripulante, conta ao JN que sofreu o primeiro embate no leme por uma orca sem que se apercebesse de que estava rodeado pelo grupo com cerca de quatro animais.
"Pensei que tivesse chocado com uma boia de pesca e no momento em que ia desligar o piloto automático senti um segundo embate. Coloquei a embarcação em marcha atrás, mas não fez qualquer diferença e continuei a sentir embates no leme. Nesse momento decidi largar o leme e as orcas faziam o veleiro rodar sobre si próprio", conta Luís Oliveira.
Sem conseguir afastar o grupo, o velejador desligou o motor. "Os ataques tornaram-se mais suaves até que ao fim de dez minutos as orcas perderam o interesse e seguiram o seu caminho", descreve ao JN.
Luís Oliveira alertou o Instituto de Socorro a Náufragos, que se deslocou ao local com uma lancha de Sesimbra, mas não necessitou de reboque. Seguiu depois para o Porto de Cascais, sem que tivesse problemas de navegação. Sofreu danos no leme.
Este ano, até ao presente, houve 25 interações com orcas, das quais oito embarcações com danos, uma das quais naufragou em Sines, no início de agosto. Até 2019 não havia registo de interações com estes animais que desde sempre passaram ao largo da costa, mas a partir de 2020 começaram as interações, muitas perigosas.
Em 2019, as autoridades registaram 17 ocorrências, oito das quais com danos nas embarcações, nomeadamente o leme. Em 2021 foram registadas 61 ocorrências, 26 das quais com danos.