Há espaços a infringir horários. Empresários apontam dificuldades e quem tenta cumprir as regras sente-se lesado pelos infratores.
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Não faltam avisos a indicar a proibição de venda de álcool para a via pública a partir das 21 horas nos vários estabelecimentos da movida do Porto. Mas também não falta quem continue a transgredir. Seja porque prefere ignorar as novas regras, seja porque não consegue evitar que os clientes saiam para a rua de copo na mão. Passados os dois meses de adaptação ao regulamento, continua a haver espaços abertos fora de horas e muito barulho nas ruas (e em alguns bares) que penaliza os moradores.
A Câmara já anunciou que vai fechar os estabelecimentos que não cumpram as regras de forma reiterada e o presidente acredita que bastará encerrar o primeiro para que a situação comece a mudar. Porém, entre empresários que desconhecem as medidas e a comunidade que denuncia a complexidade do documento, a maioria das pessoas ouvidas pelo JN não acredita que o regulamento resolva o problema.
Até porque há estabelecimentos que se encontram fora das artérias abrangidas no regulamento, mas que ficam nas proximidades, que continuam o negócio nos moldes anteriores.
Cordoaria
Controla as saídas do álcool à porta
O relógio apontava para a uma da manhã. Em frente à Adega Leonor, na Cordoaria, as cadeiras e as mesas da esplanada já estavam arrumadas. Mas centenas de pessoas continuavam em festa na rua, com uma coluna a dar música. Das três zonas da movida definidas pelo regulamento, a Cordoaria insere-se na que tem maiores restrições, uma vez que tem mais moradores. As esplanadas só podem estar montadas até à meia-noite. A partir dessa hora, o serviço tem de ser feito dentro de portas, evitando o botelhão.
Mas quem por ali passava não conseguia prever o caos vivido no interior da Adega Leonor. Com a lotação esgotada, tentava-se impedir que os clientes passassem da porta com o copo na mão. A controlar as saídas e as entradas estava o proprietário, Rodolfo Soares: "É uma posição vergonhosa. Ter de andar a ver quem sai ou não com os copos". Na visão de António Couto, gerente do espaço, o problema está fora do alcance dos bares": "O ruído que está a acontecer na rua é causado maioritariamente por jovens que trazem colunas e as próprias bebidas". "Quando tínhamos o policiamento gratificado, isto não acontecia na rua", sublinha.
Praça Filipa de Lencastre
"Estou a remar contra a maré"
Também no Tamisa Lounge Buffet, na Praça de D. Filipa de Lencastre, tenta-se "cumprir o regulamento à risca", com a retirada das esplanadas no horário estipulado e a sensibilização dos clientes, com cinco avisos afixados sobre o consumo de álcool na via pública.
Contudo, o proprietário António Mendes sente que está "a remar contra a maré", argumentando que há lojas e bares que não estão a cumprir as regras, causando-lhes prejuízo.
Por exemplo, na Rua das Oliveiras, que está inserida na mesma zona, à mesma hora, as esplanadas continuavam a trabalhar. E na rua estavam, pelo menos, três vezes mais pessoas do que os bares conseguiam receber. A aglomeração no exterior era inevitável.
No Tamisa Lounge, os funcionários tentavam, com grande dificuldade, impedir que as bebidas saíssem para a rua. "Não temos um porteiro para controlar isso. É um absurdo. Somos lesados, perdemos dinheiro, e ainda somos vistos como os maus da história", referiu António Mendes sobre o ruído e o novo regulamento.
Santo Ildefonso
Desconhecem as novas regras
O JN tentou perceber junto dos clientes, incluindo os que faziam a festa na rua, se conheciam as novas regras. A maioria desconhecia tanto o regulamento, como a existência de moradores em certas zonas da cidade, como a Cordoaria.
"Eu desconhecia. Mas também acho que não é por os jovens saberem que há moradores que vão deixar de vir. Não estão preocupados e não querem saber", referiu Constança Simões.
Mas a desinformação alastra aos próprios comerciantes. Na Rua de Santo Ildefonso, zona onde as lojas de conveniência devem fechar às 21 horas, o JN falou com um proprietário que continuou a vender bebidas alcoólicas até à meia-noite.
De acordo com o comerciante, natural do Bangladesh, a Polícia Municipal esteve no local para informar das novas restrições. Contudo, os entraves da língua impediram que se entendessem e o proprietário ficou sem perceber o que diz o novo regulamento.
O que mudou
Período de adaptação
O novo regulamento da movida do Porto entrou em vigor a 24 de fevereiro. Os proprietários tiveram, a partir daí, dois meses para se adaptarem às novas regras.
Venda a partir das 21
Uma das principais normas é a proibição da venda de álcool para a via pública entre as 21 e as 7 horas.
Regras por três zonas
A Câmara alargou o conceito de movida, e dividiu-a em três áreas, com base no número de moradores. São elas a zona protegida, a zona de contenção e o núcleo da movida.
Zona protegida
É onde se estima haver mais moradores. Os espaços podem ter esplanadas até à meia-noite. A partir dessa hora, a venda para o exterior é proibida.
Zona de contenção
Nesta área, o horário é limitado até às 21 horas apenas aos estabelecimentos que vendem álcool para fora, como mercearias, garrafeiras e lojas de conveniência.
Núcleo da movida
Contempla ruas e praças com menos moradores e, por conseguinte, as normas aqui serão menos restritivas.
210 infrações
Nos últimos cinco anos, foram detetadas pelos serviços da Câmara do Porto, 210 infrações em estabelecimentos na zona da movida. A maioria das situações diz respeito a um período anterior às novas regras.