Quebra nas receitas é compensada por novos serviços e renovada apresentação.
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Com as festas e romarias canceladas devido à pandemia do novo coronavírus, o negócio da venda de farturas e churros teve de encontrar novas formas de chegar ao consumidor. O takeaway e as entregas ao domicílio foram a solução para a maioria destas empresas familiares. Criaram-se novos produtos, mais vistosos e coloridos e fazem-se promoções.
As encomendas são feitas pelo telefone e o menu escolhido segue para casa do cliente não nos tradicionais saquinhos de papel, mas em caixas normalmente usadas para o transporte de pizas.
"As pessoas estavam com muitas saudades de farturas e nós com a necessidade de vender", conta Ana Lameira, que há 28 anos vende farturas na conhecida rulote amarela com letras vermelhas. As Farturas Ana, por esta altura, deviam estar a sair da Romaria de Santiago, em Oliveira do Douro, para seguir para a Póvoa de Varzim, para as festas da Senhora da Assunção. Depois o poiso obrigatório eram as festas da Agonia, em Viana, e o verão terminava em Gondomar, na Romaria do Rosário.
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Quebras de 80%
"Após o confinamento ainda se vendeu bastante, mas agora o negócio caiu. São quebras na ordem dos 80%", acrescenta Ana, que está farta de vender no mesmo local, junto ao centro comercial Parque Nascente, em Rio Tinto. Gere o negócio com o marido. A filha ajuda na confeção das farturas e churros e o genro faz as entregas. "Já pedi à Câmara do Porto para me atribuírem um local na cidade onde não há ninguém a vender, mas continuo à espera de uma resposta", afirma.
A alguns quilómetros dali, numa área descampada junto à Rua do Paço, em Águas Santas, na Maia, está uma das rulotes das Farturas Soraia. A outra está em Gaia, em Miramar, junto ao Senhor da Pedra. Trata-se de mais um negócio familiar de um casal e quatro filhos. Foi herdado por Vítor dos pais: os antigos divertimentos Anunciação. Os matraquilhos e carrosséis ficaram para trás e a família aventurou-se nas farturas há 17 anos. O nome é da filha mais velha. Todos, pais e filhos, nasceram e vivem nas festas e romarias.
A pandemia veio alterar o dia a dia da família e a conta bancária. "Antigamente, vendíamos nas festas entre 50 e 100 quilos de farinha. Agora é 15, há dias que vendemos 20", conta Vítor. Quando fazem "500 euros por dia é uma fartura". O takeaway foi a saída para evitar o encerramento da atividade. E muita imaginação. Joana, a irmã mais nova, inventa os produtos. Soraia coloca-os em prática.
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Foi assim que nasceu o "mix", com 12 churros, dois sabores e mais quatro ingredientes à escolha do cliente. A caixa custa oito euros. A "mega" (para cinco pessoas), com o dobro dos produtos, é a 15 euros. Mas há ainda a "churrita", uma caixa mais pequena, e o "copo tentação", com um crepe, churros e molhos. A caixa com seis farturas custa 5 euros. Com uma dúzia o preço é de nove.
O telefone não pára de tocar e as quatro viaturas saem carregadas de encomendas com destino ao Porto, Maia, Matosinhos, Ermesinde e Gondomar. Num sistema idêntico a muitas outras empresas de farturas a operar por todo o Grande Porto. Soraia diz que "está a resultar", mas só quer que "a covid vá embora" para voltarem à estrada.
Vários locais
As diversas rulotes que se encontravam nas festas populares estão agora espalhadas pelo Grande Porto: as Farturas Castro estão em Valongo, as Dolores na Afurada (Gaia), as Lola em Gondomar, as Renato em Alfena e as Samy na Senhora da Saúde, nos Carvalhos (Gaia), e as Couto, no Parque La Sallete, em Oliveira de Azeméis.
Venda nómada
A gestão e atribuição de licenças para o comércio de farturas e churros cabem às juntas de freguesia e câmaras, no âmbito da legislação referente à restauração e bebidas não sedentária.