Projeto "A Música dá Trabalho" inclui dez concertos em escolas do concelho. Alunos desafiados a subir ao palco.
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Bruno, João, Miguel, Carolina e Sasha não imaginavam que iriam ter a oportunidade de tocar instrumentos dos Whales, quando a banda foi dar, na passada segunda-feira, um concerto ao Centro Escolar da Barreira, em Leiria, onde estudam 222 alunos do 1. º Ciclo. O desafio para mostrarem os dotes musicais foi lançado por Gui Garrido, programador cultural envolvido na iniciativa A Música dá Trabalho, que selecionou as cinco crianças entre as dezenas que puseram o braço no ar.
Já em palco, Bruno ficou tão atrapalhado que pôs as mãos na cabeça e depois no rosto, até finalmente as pousar no teclado do sintetizador. "Não é o piano em que estou habituado a tocar", justificou ao microfone. "Uma salva de palmas", gritou Gui Garrido, incentivando a criança a iniciar o espetáculo. Convidado a juntar-se ao colega, João não se deixou intimidar. Sentou-se à bateria e começou a tocar de imediato. Depois, foi a vez de Miguel e de Carolina substituírem Bruno no teclado, e de Sasha testar a bateria.
Música omnipresente
Hugo Ferreira, presidente da Cooperativa Cultural, Educacional e de Reabilitação (CCER) Mais, conhecida pela marca Omnichord Records, recua até 2012 para explicar a ligação com as escolas de Leiria. "Levávamos CD de bandas que tocavam na Fade In e pedíamos aos alunos do Ensino Básico para fazerem novas versões", conta.
Aos jovens das escolas secundárias propuseram que participassem no concurso de música ZUS! - Zone Under Sounds, para descobrirem novos talentos. Na primeira edição, ganharam os First Breath After Coma e, nas edições seguintes, Surma e Whales.
Depois disso, músicos de Leiria regressaram às escolas para dar formação aos alunos, no âmbito do projeto Música Omnipresente. "Quando apareceu a pandemia pensámos: o que é que podemos fazer que ainda não fizemos?", recorda Hugo Ferreira. E foi assim que nasceu "A Música dá Trabalho", que está a dar a conhecer os 22 profissionais do setor, em dez escolas. Desde a compositora, ao designer, ao divulgador, à gestora de redes sociais, passando pela contabilista, pelo assistente de palco, até ao ouvinte.
Para explicar "quem faz o quê antes de a música te chegar aos ouvidos", a CCER Mais editou um livro com ilustrações, que foi distribuído por todas as crianças da Barreira. Foi o ponto de partida para Gui Garrido interagir com elas.
Celeste Lopes, coordenadora do estabelecimento de ensino, diz que os alunos reagiram com "euforia" à ideia, após tanto tempo fechados ao exterior, devido à covid-19. "Estes conhecimentos não se aprendem dentro da sala de aula e são uma mais-valia para acumular aprendizagens".
Pedro Carvalho, vocalista dos Whales, confessa que pensou que os miúdos os iam ignorar. "Estou farto de sorrir e de me rir, e isso aquece-me o coração", afirma. "Espero que tenhamos influenciado os garotos, porque faz falta malta na música".
Os últimos três concertos decorrem a 14, 15 e 21 de março e serão protagonizados pelas bandas lançadas pela Omnichord Records Sean Riley & The Slowriders, Few Fingers e First Breath After Coma, noutras escolas de Leiria.
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Omnichord envolve a comunidade
A Omnichord Records foi a editora que lançou o álbum de estreia dos 5ª Punkada, banda constituída por utentes da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra. As músicas foram compostas pelos cinco artistas do grupo, gravadas em estúdio por Rui Gaspar, dos First Breath After Coma, e teve como convidados Surma e Victor Torpedo. Em 2021, a Omnichord criou ainda o "Nascentes", ciclo de residências artísticas e de tertúlias, junto ao rio Lis, nas Fontes, em Leiria, com a participação da comunidade.