O município de Viana do Castelo apresentou, esta sexta-feira, publicamente as linhas gerais da candidatura a Capital Europeia da Cultura 2027, que irá formalizar no próximo dia 23 de novembro.
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Com o lema "Viana, um mar de cultura, a cidade é uma das 12 de norte a sul do continente e das ilhas (Braga, Vila Real, Aveiro, Coimbra, Guarda, Leiria, Oeiras, Évora, Faro, Funchal e Ponta Delgada), que estão na corrida. E espelhará na sua candidatura as tradições, romarias e festas, o folclore e o traje, ouro, os bordados, as diversas correntes culturais, artes e ofícios, arquitetura civil e religiosa, museus, património e a vivência ligada ao mar, como principais argumentos para ser a eleita. O site da candidatura já está disponível na Internet (www.vianamardecultura.org).
"Vamos apresentar-nos a jogo com aquilo que temos de melhor, para que em conjunto o júri possa fazer uma avaliação", declarou o autarca José Maria Costa, que presidiu à sessão de apresentação da candidatura que decorreu nos claustros do Convento de S. Domingos, perante vários representantes de instituições e agentes culturais da cidade. O Presidente da Câmara destacou "concorrência saudável" entre as cidades candidatas. "Estou certo que o país não ficará igual depois destas candidaturas, porque o trabalho que está a ser feito na preparação e organização das candidaturas não se vai perder. Vamos dar todos uma enorme importância à cultura", disse, acrescentando: "E em novembro estaremos todos de consciência tranquila que demos o nosso melhor depois que ganhe a melhor. Se for Viana do Castelo ficaremos todos muito contentes porque acho que merecemos pelo trabalho desenvolvido e sobretudo pelo valor patrimonial que temos".
Gonçalo Vasconcelos e Sousa, historiador, especialista em arte, de 51 anos, professor catedrático da Universidade Católica, é Comissário da candidatura de Viana do Castelo a Capital Europeia da Cultural 2027 (CEC2027). Preside a uma Comissão Executiva formada por José Escaleira, Professor do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC), Mário Barroca, vice-diretor da Faculdade de Letras do Porto, Rosa do Santos Mota, investigadora de matérias como o ouro de Viana e o escritor Valter Hugo Mãe.
"Viana concorre com mais 11 cidades, cujos nomes não devemos ter medo de mencionar, porque, como diria o outro, somos todos Portugal e isso é o mais importante", declarou, considerando que, entre as candidatas, aquela possui "uma identidade" própria. "Há todo um conjunto de vivências em Viana que lhe confere essa identidade. Há o folclore de Viana, o ouro de Viana, o traje de Viana, o bordado de Viana. É quase uma melodia, que quase faz lembrar o versejar de Pedro Homem de Mello que tão ligado esteve a esta terra", descreveu, referindo que, no âmbito de preparação da candidatura, Valter Hugo Mãe foi ele próprio autor de um lema "Viana, capital da nossa cultura", a que entretanto será dada visibilidade através de camisolas alusivas à candidatura.
Entrevista
O caldo cultural de Viana reúne todas as características para a cidade ser Capital Europeia da Cultura
Quais são os principais argumentos desta candidatura?
Um dos pilares fundamentais é mar e a relação de Viana com a água, desde o passado, à sustentabilidade e energias renováveis. Também há um toque de ciência e de modernidade.
Depois há outro eixo que é o da identidade. Há muitos referenciais nacionais que aportam a Viana. O traje, as festas e até o chamado ouro de Viana, que nem é de cá, mas é usado em grande quantidade. E os ofícios. Há a consciência, por exemplo, nos estuques, que os grandes estucadores são de freguesias de Viana.
O mar é lema...
Viana é uma cidade que se orienta entre o rio e o mar. E o lema da candidatura é "Viana, um mar de Cultura". O mar tem um conjunto de simbolismos relacionados com a cidade porque lhe permitiu a partida e a chegada. Viana é aberta aos outros e é espaço de liberdade e de diversidade. Durante milénios habituou-se a receber pessoas de fora e a mandar pessoas para fora. Foi terra de emigração. Hoje há muitos emigrantes pela Europa fora. Esses aspetos vão ser tidos em conta na candidatura, mas não podemos dizer tudo, porque são 12 cidades concorrentes (Viana do Castelo, Braga, Vila Real, Aveiro, Coimbra, Guarda, Leiria, Oeiras, Évora, Faro, Funchal e Ponta Delgada)...
E o que pode contar?
Vamos trabalhar sobre o dia a dia dos vianenses, da cidade, projetando ideias e aspectos que possam ser sempre melhorados. Esse é um dos objetivos do processo que tem o marco em 2027, mas que tem todo um percurso para trás e deixará marcas depois. Todo o processo da candidatura tem de fazer eco deste tempo longo.
A metodologia encontrada para selecionar a CEC foi uma mais-valia extraordinária para o país, porque vai colocar 12 cidades de Norte a Sul de Portugal e ilhas, a pensar o que é hoje a Cultura, o que pode vir a ser até 2027 e depois disso. Já sabemos que só uma ganha, mas o processo pode criar condição para que a Cultura passe a ser no país um vector fundamental do seu desenvolvimento.
Quais são os passos desta candidatura?
Este tempo agora é de auscultação das populações e forças vivas. E o próximo passo é 23 de novembro. Temos de entregar o dossier da candidatura. A partir daí vão ser selecionadas 3 cidades e depois uma fica. Em 2022 as 3 cidades serão visitadas por um juri e a partir daí já se saberá sobre a CEC2027.
Como foi escolhido o Comissário e a sua equipa?
A Câmara já há muito tempo que vinha trabalhando dentro dos seus serviços a candidatura e chegou a dada altura foi preciso escolher, como em todas as cidades, um Comissário e Comissões Executiva, Consultiva e de Honra. Nessa altura apareceu o meu nome.
Sou professor catedrático da Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa há mais de dez anos e estou muito ligado às questões do património. Já há algum tempo que tenho ligações a Viana, por ter impulsionado as investigações sobre o ouro popular e também pelas minhas ligações familiares.
Depois eu propus para a Comissão Executiva, o Professor do Politécnico de Viana, José Escaleira, uma pessoa com muitas qualidades de vivência cultural, muito respeitada e querida, humanamente, em Viana; o professor Mário Barroca, vice-diretor da Faculdade de Letras do Porto; a doutora Rosa do Santos Mota, pela investigação ao longo de anos ao ouro de Viana e o escritor Valter Hugo Mãe.
O chef Hélio Loureiro faz parte da Comissão Consultiva, que nos vai dando apoio.
Como se sente neste papel?
Sinto uma palavra muito vianense que é chieira (vaidade).
Acho que Viana é uma cidade, a que todas as pessoas têm prazer em ligar-se. É pela positiva e pela alegria. A Romaria d'Agonia é uma explosão de cor e Viana é uma cidade de luz. Tudo isto cerzido dá uma peça extraordinária, com a qual as pessoas se identificam. Não há ninguém a quem se fale de Viana que não goste da cidade. Muitas dizem: 'É uma cidade onde gostava de viver'. O caldo cultural de Viana reúne todas as características para se dizer que pode perfeitamente ser uma Capital Europeia da Cultura.