As chamas ameaçam vários lugares do concelho e deixam de coração nas mãos muitos moradores. Alguns confinados protegidos pelos bombeiros, outros que não conseguem chegar ao que lhes pertence. Só a esperança não arde.
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João Marques diz que é o maior apicultor de Arouca. Tem perto de um milhar de colmeias, distribuídas por vários lugares do concelho, mas há 100 que estão na linha de fogo do incêndio que desde ontem inferniza a região. Tem receio que as abelhas não se salvem: "Elas não abandonam a colmeia, morrem juntas a proteger a raínha". Ao início desta tarde, João, 28 anos, é um dos muitos que está preso na EN224, em Santa Eulália. A GNR não autoriza a passagem da população por questões de segurança.
Ali, na fronteira com Castelo de Paiva, o fogo ameaça as localidades de Santa Eulália e Celadas, onde moram, no total, menos de 20 pessoas, que estão confinadas nas aldeias. As labaredas já não estão muito longe, mas o presidente da Junta de Santa Eulália, Élio Soares, acredita que não haverá vítimas, nem grandes danos materiais. Nem todos pensam assim. Os filhos de um homem que em 2016 perdeu a casa, em Celadas, receiam que o fogo repita a tragédia, logo agora que a casa finalmente está acabada. Estão transtornados, não querem falar, nem precisam para dizer tudo.
Fotos: Pedro Correia
O fumo, que já se nota em Oliveira de Azeméis, a uns 30 quilometros de Arouca, vai comendo mato e muito eucalipto. Carlos Moreira, 60 anos, perdeu 10 mil euros em madeira, que estava em Santa Eulália, "cortada e pronta para ir para uma fábrica de papel na Figueira da Foz". Esta manhã, correu mais de três quilómetros para ver se salvava alguma coisa no "monte". A madeira não conseguiu, mas tirou o trator, que lhe custou 30 mil euros, que já tinha as labaredas em cima.
Carlos Moreira perdeu 10 mil euros em madeira
Foto: Pedro Correia
As previsões do calor e do vento não auguram nada de bom para Arouca. O fogo vai continuar a lamber tudo o que lhe aparecer pela frente. A esperança são os bombeiros, às centenas, que lutam como podem para salvar vidas e o património feito de trabalho de quem está farto de tanto incêndio.