Moradores do Centro Histórico queixam-se do consumo de drogas e de intimidações por bandos.
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A Câmara de Guimarães está a preparar um sistema de videovigilância para instalar no centro da cidade. O tema ganhou relevância pública depois de o presidente da União de Juntas de Freguesia do centro urbano, Rui Porfírio, ter feito uma intervenção na última Assembleia Municipal a traçar um cenário de medo. Também Braga e Famalicão querem avançar com o mesmo sistema, sendo que Famalicão aguarda apenas o licenciamento e autorização do Ministério da Administração Interna.
O casco da Zona Histórica de Guimarães é composto por uma série de ruas e vielas onde não passam carros. Para os moradores, como Jorge Correia, "o problema é a falta de patrulhamento". "Quando chamamos a Polícia, demora pelo menos 45 minutos e só passa de carro", diz.
Há um ano, Jorge Correia e a namorada concretizaram o sonho de viver naquela zona da cidade, agora já ponderam sair. "Estive uns dias fora e a minha companheira ficou trancada em casa à noite, com medo de sair", conta. Sem se querer identificar, mostra um vídeo de um casal em cenas de sexo em frente à porta de casa. "Aconteceu quando ele estava fora. Se dizemos alguma coisa, respondem com pedras e insultos e oferecem porrada", revela.
Segundo os moradores, os grupos partem os candeeiros para estarem ainda mais escondidos. "Quebram as luzes e as câmaras dos videoporteiros.... Já nem arranjo nada, não vale a pena", conta Manuel Ribeiro. O músico, de 71 anos, por dever de ofício chega a casa de madrugada. "Um dia pedi a um grupo de dez para não se sentarem em cima do meu carro. Atiraram-se a mim. Deixaram-me inconsciente no chão a sangrar".
Para o presidente da União de Freguesias, o problema, "além da falta de policiamento a pé, é a quantidade de bares e esplanadas que foram licenciados". E lamenta que a Câmara não tenha acolhido nenhuma das propostas da União de Freguesias no regulamento municipal dos horários.
"O ruído e a insegurança estão a diminuir a qualidade de vida. As pessoas fogem para as periferias e o centro está a perder a alma vimaranense. Entre 2011 e 2021, foram mais de mil habitantes, principalmente portugueses. Em cerca de sete mil habitantes, temos 792 estrangeiros de 52 nacionalidades".
Trabalho com a PSP
O presidente da Câmara fala da "necessidade de combater os excessos", mas sublinha que Guimarães tem um baixo índice de criminalidade. Domingos Bragança anunciou um sistema de videovigilância "que está a ser trabalhado com a PSP" e de que já se tinha falado, em agosto do ano passado, por ocasião dos distúrbios provocados pelos adeptos do Hajduk Split.
O comando de Braga da PSP afirma que "as situações relativas ao centro de Guimarães estão a ser avaliadas e processadas pela Polícia local, com o recurso a diversas valências".
Famalicão já tem sistema pronto. Braga avalia
Na sequência das obras de reabilitação do centro urbano, a Câmara de Famalicão instalou uma rede de equipamentos de recolha de dados que está preparada para fazer a videovigilância. Os equipamentos registam apenas dados analíticos, relacionados com a presença e fluidez de tráfego, sem recurso à captação e gravação de imagens.
Aguarda apenas o licenciamento pela PSP e a autorização do MAI. Já Braga está em fase de avaliação. "Começamos pelo monte do Picoto, mas, por proposta da Polícia, alargamos o projeto às ruas do centro. Esperamos ter o sistema a funcionar até ao final do ano", diz ao JN Ricardo Rio.