Embaixador e especialista em protocolo, José de Bouza Serrano enquadra a questão real na atualidade da República Portuguesa. Numa República que acaba de completar 113 anos, um casamento real monopoliza as atenções. José de Bouza Serrano enquadra-nos esta cerimónia em 2023.
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É correto falar de casamento real numa República?
Sim. É um casamento real, é um membro da primeira família real portuguesa que se casa. Eles são os Bragança, são herdeiros da coroa.
Os títulos reais têm validade vitalícia?
Têm. Se abrir o almanaque do Gotha, verá que em Portugal existem Suas Altezas Reais, os Duques de Bragança e os filhos. O herdeiro terá o tratamento de Sua Alteza Real e a Infanta de Sua Alteza, assim como o Sr. D. Dinis. O próprio Estado português reconhece-os como herdeiros.
Qual é a relação dos Bragança com a República?
É de simpatia e respeito. Eles são cidadãos portugueses, só que têm o beneplácito real porque descendem de pessoas reais e têm o tratamento de altezas. Só lamento que não venham na lei das precedências do Protocolo do Estado Português.
No estrangeiro também é assim?
É diferente. Em França, por exemplo, que é tão republicana, quando há cerimónias, os descendentes de Napoleão são tratados como isso mesmo: descendentes.
A República tem mais de 100 anos. Alguma vez se voltará à monarquia?
Não creio. Tinha de haver um tsunami. Mas manter viva a ideia de que existem herdeiros e que a Infanta se vai casar num magnífico monumento que é um símbolo dos Bragança – D. João V é Bragança no seu melhor –, tudo isso é bom para não se perder o fio da História. É preciso saber que há várias dinastias e vários regimes. É bom que as pessoas aprendam que nós, cá, também temos alguém que defende os reis de Portugal.
Que seriam D. Duarte e D. Isabel…
Exatamente. Mas um tsunami não chega para isso. O que é muito bom é que as pessoas os conheçam, porque são muito patriotas, muito portugueses, não têm partidos políticos e têm passado aos filhos a missão de servir Portugal.
O casamento está a ser muito mediatizado. Como explica esta popularidade?
Para quem é católico e praticante, o casamento é um sacramento e há ali dois jovens católicos que estão apaixonados e têm esta esperança num futuro. Faço parte de um grupo que está a organizar a parte de protocolo dentro da Basílica. Estou a ver a coisa do lado da cerimónia privada, que nos enche de alegria porque é a continuação da dinastia, embora a Infanta tenha um irmão mais velho que será o chefe da Casa e não ela. Esta mediatização é ótima, a instituição vibra. Espero que cá fora seja, também, uma grande celebração popular.