
Momento da coroação de Fátima Bosch, vencedora do Miss Universo 2025 em Banguecoque
Foto: Rungroj Yongrit/EPA
A vitória de Fátima Bosch coroa uma edição marcada por protestos, acusações de manipulação e um raro boicote entre candidatas. A portuguesa Camila Vitorino brilhou, mas não chegou ao top 30 numa gala de fortes emoções.
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Fátima Bosch respirou fundo antes de as luzes incidirem sobre si. A mexicana, de 25 anos, foi coroada Miss Universo 2025 em Banguecoque, Tailândia, numa final que encerrou semanas de tensão e trouxe para o palco o lado mais humano do certame: resiliência, união e coragem.
A nova Miss Universo, Fátima Bosch, com Victoria Kjaer Theilvig, que encerrou o seu reinado de um ano (Foto: Rungroj Yongrit/EPA)
A polémica que marcou esta edição rebentou no início de novembro, quando Nawat Itsaragrisil, executivo tailandês ligado à organização, repreendeu Bosch em público por alegadamente não publicar conteúdo promocional. Perante dezenas de concorrentes, elevou o tom, chamou a segurança e avisou que afastaria quem a apoiasse. A mexicana abandonou a sala em protesto, acompanhada por várias candidatas que decidiram solidarizar-se num gesto que deu a volta ao mundo.
A organização do Miss Universo classificou o comportamento do responsável como "malicioso". No México, a presidente Claudia Sheinbaum elogiou Bosch como um "exemplo de como as mulheres devem reagir perante agressões". A onda de apoio transformou a jovem na figura mais marcante desta edição.
Tensão nos bastidores
A crise adensou-se dias depois com a renúncia de dois jurados. O músico franco-libanês Omar Harfouch alegou que existia um "júri improvisado" responsável por pré-selecionar finalistas antes da gala decisiva. Horas depois, o ex-futebolista Claude Makelele afastou-se igualmente, justificando motivos pessoais. A organização negou qualquer irregularidade.
Entretanto, outro episódio ganhou destaque mundial. Durante a prova de vestido de gala, a Miss Jamaica, Gabrielle Henry, sofreu uma queda aparatosa em palco e teve de ser retirada em maca. O vídeo espalhou-se rapidamente pelas redes sociais e, mais tarde, a organização assegurou que a candidata estava hospitalizada, sem fraturas, e a receber os devidos cuidados.
Apesar da turbulência, Bosch entrou na final com enorme foco. Questionada sobre como inspiraria meninas através da plataforma do concurso, afirmou: "Como Miss Universo, vou dizer-lhes: acredite no poder da sua autenticidade, acredite em si mesma, porque os seus sonhos são importantes, o seu coração importa. E nunca deixe ninguém duvidar do seu valor, porque você vale tudo e tem poder, e a sua voz precisa de ser ouvida."
"Como mulher e como Miss Universo, vou colocar a minha voz e o meu poder ao serviço do próximo. Estamos aqui para mudar, para fazer melhor. Somos mulheres, aquelas que podem estar de pé e que vão fazer história", reforçou, quando desafiada a explicar como tornaria o mundo mais seguro para mulheres.
Um título que divide opiniões
A vitória de Bosch rapidamente dividiu opiniões online. Para muitos, foi o triunfo da coragem e da autenticidade. Para outros, uma decisão influenciada pelo polémico episódio inicial. Entre os comentários mais partilhados destacou-se um que dizia: "No próximo ano, quem fizer walkout vence."
O pódio ficou completo com Veena Praveenar Singh, da Tailândia, em segundo lugar, e Stephany Abasali, da Venezuela, em terceiro. Miss Filipinas, Ahtisa Manalo, e Miss Costa do Marfim, Olivia Yacé, encerraram o top cinco entre 121 candidatas.
O top 5 do Miss Universo 2025 momentos antes de ser revelada a nova vencedora (Foto: Rungroj Yongrit/EPA)
Portugal foi representado por Camila Vitorino, que se destacou pelo porte elegante e pela simpatia amplamente reconhecida nas redes sociais. Mesmo sem chegar ao top 30, a jovem acabou por conquistar o público que acompanhou a gala.
Numa fase em que o Miss Universo enfrenta tensões internas entre lideranças mexicanas e tailandesas, o certame procura reinventar-se numa era dominada pelo TikTok, Instagram e transmissões online. A quebra de audiências obriga a organização a modernizar-se, sem abdicar de valores como inclusão, visibilidade e empoderamento feminino.
Paula Shugart, antiga presidente da entidade, sintetizou recentemente esta visão ao afirmar: "Miss Universo não vale nada se não empoderar as mulheres que competem."
Fátima Bosch parece ter abraçado essa missão desde o primeiro minuto. Numa edição marcada por episódios intensos e momentos de coragem, foi precisamente essa voz firme que a levou ao topo.

