João Reis Moreira: "Têm a mania que o Conan Osiris é polémico, para mim é normal"
É o bailarino mais falado do momento. João Reis Moreira é o rapaz catita que tarraxa sem piedade ao lado de Conan Osiris e sidera todos os que o veem pela primeira vez.
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Nasceu no Cacém onde conheceu Conan Osiris numa festa a dançar e mudou-se para Lisboa aos 16 anos para estudar na Escola Artística António Arroios. Agora, com 23 anos, confessa que o mediatismo do Festival da Canção é difícil de assimilar e explica de onde vem a inspiração para os movimentos multiculturais de uma dança que nunca estudou e que começou a praticar fechado no quarto com vergonha porque dançar era coisa de meninas.
Como é que conheceste o Conan Osiris?
O Conan era da turma da minha irmã mais velha, conheci-o porque eles eram amigos e ele frequentava a nossa casa. Eu e a minha irmã, apesar da diferença de idades, tínhamos alguma proximidade. Eu ia com ela a festas de amigos, aniversários, passagens de ano, e aí na primeira passagem de ano que passei com os amigos dela conheci o Tiago (Conan Osisis) mais a fundo e a nossa ligação começou a partir de dança, de estarmos a dançar na festa.
Como foi esse momento?
Eu sempre dancei em pequeno, mas era uma coisa que fazia com vergonha, tanto na minha escola como na família, em casa. Dançava fechado no quarto porque tinha vergonha, a dança era uma coisa para raparigas, na cabeça de uma pessoa com dez anos. Nessa festa, de repente, vi um rapaz mais velho a dançar exatamente como ele queria sem nenhum tipo de constrangimento e isso foi muito inspirador para mim. De repente éramos quase só as duas únicas pessoas que estávamos a dançar na festa e foi aí que começamos a conversar. Depois ele deixou de ser o amigo da minha irmã para passar a ser o meu amigo.
E daí para o trabalho em conjunto?
O nosso trabalho em conjunto foi devido a termos o mesmo gosto musical, o interesse pelos mesmos artistas, na parte musical e de dança. De todo o nosso grupo de amigos somos, se calhar, quem se entende melhor. Então quando ele lança o terceiro álbum, na internet as pessoas ficam malucas, começam a conhecê-lo, ele começa a ficar viral e aparecem os primeiros convites. Na altura o primeiro convite foi o do canal Q, ele ligou-me e disse-me: "Olha, como já percebeste isto está a ficar muito maluco, as pessoas estão a ficar bué doidas, eu estou a receber convites e eu queria-te convidar para te juntares. Eu canto e tu danças para a apresentação ter uma componente mais dinâmica, de dança". Porque também é essa a música que ele faz, de dança. Ele convidou-me e começou assim. Fiz os espetáculos quase todos, só falhei dois porque tinha compromissos.
Não tens formação de dança?
Não, não tenho. A formação que tenho é em teatro e performance. Formação de palco e interpretação, vá, que é o que eu faço. Fiz parte de um grupo de teatro amador, na António Arroio ganhamos um apoio para um espetáculo na Culturgest. Depois disso comecei a fazer formações independentes, fiz com a Sara Ribeiro, Pedro Antunes, João Garcia Miguel, Tiago Vieira, Ana Borralho e João Galante... fui fazendo projetos, castings e trabalhando nisso.
A tua dança inspira-se em quê?
Apesar de eu não ter formação académica em dança, há muitas coisas que me formaram o corpo. Eu estudei numa escola que tinha pessoas de muitas nacionalidades. Tinha amigos guineenses, são-tomenses, cabo-verdianos, angolanos, ucranianos, sérvios, moldavos, marroquinos... então havia sempre contacto com determinados ritmos, estilos de dança, formas de mover o corpo e desenho de corpo que estavam diariamente à minha frente. Os meus gostos desenvolveram-se por aí porque os meus colegas ouviam kuduro, funaná e kizomba e sempre foi uma coisa que ficou em mim, que eu desenvolvi. Ao mesmo tempo disto, sempre que eu via na televisão um bailado clássico era uma coisa que me fascinava muito. Eu tinha dez anos e se calhar preferia ficar a ver um Quebra-Nozes do que ver desenhos animados, porque estilos de dança é uma coisa que sempre me fascinou desde pequeno, todos os estilos de dança.
Ou seja expressas essa multiculturalidade de forma livre?
Sim, e não é só aqueles artistas de kuduro, funaná, ballet ou contemporâneo que me ficam. São todas as coisas. Tipo, se eu vou a algum lado, eu consigo-me aperceber muitas vezes de movimentos que me rodeiam. Já me aconteceu muitas vezes em espectáculos - porque eu não trabalho com coreografia, nem eu nem o Conan - fazer alguma coisa com o corpo e tentar perceber onde é que eu fui buscar aquilo exatamente. Se fui buscar ao amigo que fez isto inadvertidamente e aquele momento ficou gravado no meu cérebro de uma forma quase inconsciente.
No início vestias-te de tenista, entretanto passaste para um robe grande e agora apareces em tronco nú. Qual é a inspiração, jogas ténis?
(Risos) Na verdade não, nunca joguei ténis na vida. Badminton ainda dou uns toques (risos). Essa roupa de ténis é um bocado... como é que eu posso dizer... pode ser ténis ou pode ser outra coisa qualquer. A forma como eu me apresentava nos primeiros espetáculos que nós tivemos era a roupa mais confortável que eu tinha. Já que eu ia ficar uma hora a dançar e ia, escolhia a roupa mais confortável que eu tinha. Eram calções, e na parte de cima t-shirts, camisas ou polos. Mas há uma coisa curiosa que eu queria que soubesses sobre o vestuário. É que em todos os espectáculos que eu e o Conan fizemos sem stiling, no início, cada um chegava com a sua roupa, a que tinha escolhido para esse espectáculo, e as roupas eram sempre da mesma cor. Isto aconteceu aí nos primeiros 20 espetáculos, sempre, sem combinar nada. Já fomos de branco sem combinar, os dois de verde sem combinar, sempre assim em todos.
O primeiro espectáculo a solo que deram foi em Braga, e foi branco.
É verdade, em Braga foi branco e não combinamos, garanto!
Esta última apresentação já teve o stiling do Rúben Osório.
Esta última sim. Foi o Luís Carvalho que nos vestiu e foi o Rúben que fez o stiling. Agora temos o stiling do Rúben Osório, já estamos a ir mais para outra componente de espectáculos, com outro tipo de procura e requisitos. Em conjunto connosco, o Rúben é o responsável por essa parte. Estivemos a ver as peças que faziam mais sentido.
Aqueles ténis Nike com sola verde são imagem de marca?
Agora ficaram, foi muito viral! Normalmente até uso várias marcas de ténis, mas nos espetáculos são raras as exceções em que não usei Nike.
Ainda tens a cadela Margarida?
Tenho, está mesmo aqui ao meu lado.
Tens uma relação muito boa com ela, pelo que sei.
Temos uma relação muito fixe. Agora estamos um bocado mais separados porque eu saí de casa da minha mãe e a minha casa nova não tem condições para ela, porque ela teria de subir as escadas e não consegue porque está muito velhinha, já tem 14 anos. Mas de resto está ótima, está finíssima. Temos uma relação muito especial.
Como é que ela se cruzou na tua vida?
Desde muito pequenino que eu queria ter um cão, pedi sempre à minha mãe e ela sempre me deu a entender que isso ia ser uma coisa impossível. Então houve um dia em que a minha mãe me foi buscar à escola, o que já não era muito normal porque eu aí já costumava ir sozinho para casa, e quando chegamos a casa estava lá um cão bebé. Foi a coisa mais emocionante! Nunca mais me vou esquecer de entrar em casa e estar a minha cadela deitada no colo da minha irmã à minha espera.
O que é que esta participação no festival da canção te está a trazer de novo?
Eu não estava à espera de nada, com o Conan foi tudo muito rápido e sempre um bocado surpreendente. Sabes que eu sou fã do Conan. Paralelamente a ter uma forte relação de amizade com ele, tenho uma admiração muito forte por ele desde sempre. Então quando ele lançou mais um álbum era uma coisa que eu já sabia que ia acontecer, mas o resto não estava à espera. De ser convidado para atuar com ele, de chegar a um palco e ter milhares de pessoas... eu só vivia uma coisa que eu não estava à espera, o meu cérebro nem assimilava. Quando de repente eu comecei a ter mais seguidores nas redes sociais e as pessoas me começaram a conhecer na rua foi "ok tens de lidar", mas eu não estava nada à espera.
E continuas porque isto cresce cada vez mais...
Exato! A coisa mais mediática que aconteceu até agora foi, de facto, o sábado do Festival da Canção e eu sabia que ia ser polémico porque as pessoas agora têm a mania que o Conan Osiris é polémico. É mesmo uma mania porque para mim Conan Osiris é uma coisa normal. É um artista que está a fazer a sua coisa e nós estamos a fazer a apresentação ao vivo da música que ele cria. Eu sabia que tinha tido uma relevância para o bom e para o mau sentido. Dava para ver pela Internet que as pessoas estavam a falar sobre aquilo, pelos comentários, pelas reações.
Por ser tão controverso, surpreendeu-te o primeiro lugar do público?
Claro que foi uma surpresa e claro que foi muito emocionante. Foi gratificante e mágico! Há muitas pessoas a gostar que foram pegar no telemóvel e foram votar.
Tens alguma preparação especial em termos físicos? Para evitar lesões, por exemplo...
É uma coisa que já devia ter acontecido (risos). A preparação que eu faço é aquela que eu consigo e que tenho a certeza que não é a mais adequada. Porque, lá está, não estudei e nunca ninguém me ensinou, é o que faço de forma intuitiva. Faço o meu aquecimento e o meu alongamento, mais o cuidado com a alimentação. Essas coisas faço sempre o melhor que posso, mas sei que não é o mais adequado. É uma coisa que vou fazer, prometo!