A Confederação Nacional da Agricultura disse hoje, quinta-feira, que a razão por que cerca de 70 por cento dos subsídios estatais ao Oeste estão por reclamar prende-se com a burocracia e com as altas taxas de juro cobradas pelos bancos.
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"A comparticipação própria [os agricultores suportam 25 por cento] acabou por ser desencorajante porque os agricultores tiveram de recorrer à banca, pois estão descapitalizados", afirmou à Lusa João Dinis, membro da direcção nacional da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).
A banca não aceita financiar em muitos casos e noutros aceita mas a juros altíssimos, adiantou o responsável, defendendo que esta é a "principal" razão porque apenas 33 por cento das ajudas aprovadas pelo governo aos agricultores do Oeste foram até agora solicitadas ao ministério da Agricultura.
"A banca tem chegado a financiar os agricultores a juros na ordem dos 10 por cento, mas quem é que consegue suportar", questiona aquele membro da direção da CNA.
Dos 19,4 milhões de euros de pedidos feitos pelos agricultores foram aprovados 14,5 milhões de euros, relativos a 480 candidaturas. Mas até agora apenas 179 candidaturas foram alvo de pedidos de pagamento, continuando quase 10 milhões à espera de solicitações dos agricultores para pagamento, segundo o ministério da Agricultura.
"Esta ajuda começou logo mal, e alertamos para isso. Os agricultores não têm dinheiro e atrasam os pagamentos à segurança social e ao fisco. Estes, logo numa primeira triagem, ficaram excluídos, não podiam receber os apoios por causa das dívidas ao Estado", contou João Dinis.
Depois, acrescentou, tinham de suportar 25 por cento do investimento, pois o apoio estatal é de apenas 75 por cento, e os agricultores estão descapitalizados, muitos não conseguem suportar aquela percentagem de investimento.
"Depois há o problema da burocracia, são dezenas de papéis, assinaturas que faltam, processamento de despesas", comentou, acrescentando que "muitos" agricultores da região do Oeste já "desistiram" de continuar na actividade "ou pela idade, ou porque não voltaram a produzir e fizeram outra opção de vida".
Os estragos deixados pelo mau tempo na madrugada de dia 23 em sete concelhos do distrito de Lisboa custaram ao país cerca de 63 milhões de euros, de acordo com as estimativas dos prejuízos efectuadas na altura pelos municípios de Alenquer, Azambuja, Cadaval, Lourinhã, Mafra, Sobral de Monte Agraço e Torres Vedras.
O concelho de Torres Vedras foi o mais afectado pelo mau tempo, que deixou um rasto de destruição sobretudo no sector agrícola, com estufas deitadas ao chão ou parcialmente destruídas, pondo em causa a economia da fileira hortícola.