"Firmeza e diálogo" são as duas qualidades que Manuel Alegre espera encontrar hoje quando ouvir o discurso de tomada de posse do primeiro-ministro.
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Na conjuntura política adversa de um Governo minoritário, e perante dificuldades económicas e sociais no país, o socialista crê que as palavras-chave da intervenção de José Sócrates terão quer ser "abertura, negociação, diálogo".
"Uma coisa é governar com uma maioria absoluta, outra é estar perante uma maioria relativa", destaca Alegre, falando ao JN. O socialista sublinha que "a política é feita de diálogo", e no actual contexto Sócrates não terá outro remédio senão "negociar".
Colocando-se noutro ponto de vista, o fiscalista Saldanha Sanches realça que falar de diálogo é falar em "adiar tudo". "Seja o que for que Sócrates disser hoje, a bola estará no campo da Oposição", sustentou ao JN. Por isso, disse, o discurso "de pouco valerá senão para a Oposição aproveitar".
Lembrando o que se passou na legislatura minoritária de António Guterres (1995-1999), Saldanha Sanches realçou as diferenças: "Guterres pôde agradar às oposições atirando dinheiro para os problemas. Agora, José Sócrates não o pode fazer porque não há dinheiro". Segundo Saldanha Sanches, "o Governo está impotente para aplicar a política social indispensável".
Em 2005, Sócrates apostou num discurso optimista e de enfrentamento de interesses corporativos. Deu sinais de querer exercer o poder que a maioria absoluta lhe conferia de forma destemida: propôs de imediato que os medicamentos de venda livre pudessem ser adquiridos em qualquer estabelecimento e com isso abriu uma guerra com as farmácias.
Apontou como prioritário fazer a consolidação orçamental e manter as finanças públicas "sãs", recuperar o crescimento económico e combater o desemprego. E como desígnio da legislatura estabeleceu a aposta no conhecimento, inovação e tecnologia.
Para Manuel Carvalho da Silva, líder da CGTP, o contexto de 2009 exige que o primeiro-ministro traga novos temas. "O combate ao desemprego seria um bom tema", disse ao JN. "Dar sinais de que se vai no caminho do investimento correcto e do assegurar o acesso ao trabalho" são "essenciais".
O líder sindical não acredita que Sócrates dê sinais de "mudança", mas não deixa de apelar à "redução dos prémios dos gestores" que, disse, "dava para aumentar o salário mínimo".
Francisco Van Zeller, presidente da CIP, além de lamentar a escolha da sindicalista Helena André para ministra do Trabalho, espera que Sócrates "ponha água na fervura quanto à má impressão que nos deu com o seu novo governo". Para o representante do patronato, "o diálogo no actual contexto está dificultado, mas não é impossível".