Primeiro foi Teixeira dos Santos a dizer que está disponível para negociar, até os cortes nas deduções fiscais. A seguir, Francisco Assis desdobrou-se em apelos à negociação. Tudo isto, na véspera do PSD dicidir se vai viabilizar o OE, que Passos Coelho já admite fazer falta ao país.
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Foi numa entrevista publicada ontem pelo diário alemão "Frankfurter Allgemeine" que Passos Coelho deu mais um sinal de estar a ensaiar a argumentação para viabilizar o OE.
"A minha preocupação é que fiquemos numa situação muito difícil, se Portugal não tiver um orçamento para o próximo ano".
Assim, um dia antes de ouvir a opinião dos membros do Conselho Nacional do partido, o líder do PSD voltava a transmitir indícios de que não quererá ficar com o ónus de ser o responsável pelo agravamento da situação financeira do Estado português perante os mercados internacionais.
No entanto, não abrandou nas críticas à forma como o Governo enfrenta a situação do país. E acusou a política de Sócrates por "aumentar os impostos, em vez de reduzir mais a despesa pública".
Ao fim do dia, o secretário-geral do PSD, Miguel Relvas, carregava no tom crítico, ao dizer que, "com ou sem orçamento, este Governo não tem condições para continuar a governar e já não é parte do futuro para o qual temos que olhar".
As palavras de Passos Coelho (e também as de Relvas) reflectem a vontade de não dar a viabilização ao Governo de "mão beijada". A proposta que o líder levará ao Conselho Nacional irá ser acertada antes pela Comissão Política. A abstenção e a consequente viabilização do OE é o cenário mais provável, embora condicionada pelo resultado de negociações que, entretanto, possam ocorrer.
Neste quadro (e tal como o semanário Expresso publicou no sábado), a direcção do PSD pode sair da reunião desta noite, terça-feira, com uma espécie de mandato para negociar com os socialistas, no sentido da redução da carga fiscal e do reforço dos cortes da despesa do Estado.
A "deixa" para a negociação do lado socialista, de que o líder parlamentar Francisco Assis tem sido o arauto, foi ontem, segunda-feira, reforçada no Parlamento, por onde os contactos entre o PS e o PSD podem ser mais frutíferos, até porque Miguel Macedo, o presidente da bancada social-democrata, é um defensor do aprofundamento do diálogo entre os dois partidos, apesar das críticas que ainda ontem fez a Sócrates e ao OE.
"Da parte do Governo há disponibilidade total para uma negociação aberta com os partidos da Oposição, em particular com o PSD. É importante que agora haja menos retórica violenta, radical e em alguns casos gratuita e mais ponderação e mais vontade de concorrer para que se encontre uma solução de consenso", disse Assis.
A este discurso da linha moderada do PS, juntou-se o ministro Teixeira dos Santos, que numa entrevista à TSF disse estar disponível para negociar com o PSD os cortes nas deduções fiscais para a aprovação do OE. E ainda reforçou a ideia de ser necessário "estar de espírito aberto, de modo a aceitar sugestões que possam viabilizar um entendimento político".