O presidente da República sublinhou esta quinta-feira o "sentido de responsabilidade" do PSD, PS e CDS-PP nas negociações para o compromisso de "salvação nacional", mas alertou para existência de adversários que tudo farão para evitar a concretização do acordo.
Corpo do artigo
"Existem adversários do acordo do compromisso de salvação nacional, os senhores sabem muito bem isso, e que tudo farão para que ele não se concretize e que não irão olhar a meios para que ele não se concretize", afirmou o chefe de Estado, em declarações aos jornalistas nas Ilhas Selvagens, na Madeira.
Sem nunca concretizar sobre quem são em seu entender os "adversários do acordo", Cavaco Silva escusou-se a comentar as declarações do antigo presidente da República Mário Soares de que a concretização de um acordo do PS com o PSD e o CDS-PP poderia levar a uma "cisão" entre os socialistas.
"Tenho muito respeito pelos ex-presidentes da República, por isso, nunca fiz, nem nunca farei nenhum comentário em relação a declarações que eles possam fazer", referiu.
Perante a insistência dos jornalistas sobre se os "inimigos" do acordo estão dentro do PS, o chefe de Estado frisou que ao falar dos adversários do compromisso de "salvação nacional" apenas estava a querer sublinhar a "atitude de máxima responsabilidade" que os partidos têm tido, "a vontade séria, o seu empenho determinado em conseguir chegar a um entendimento".
Contudo, admitiu, a negociação que está em curso é "complexa" e "difícil".
"Mas, por toda a informação que tenho até este momento, é minha convicção que os partidos estão à altura da responsabilidade do momento de emergência que nós vivemos", insistiu,
O presidente da República recusou ainda que a sua proposta de compromisso de "salvação nacional" possa prolongar a crise, considerando que tal ideia só pode partir de pessoas que desconhecem "a situação de emergência nacional e que não conhecem a necessidade urgente de Portugal desenhar um compromisso alargado de salvação nacional".
"Portugal precisa do espírito de compromisso", reiterou, repetindo que "os partidos estão a dar exemplo notável de trabalho em conjunto".
O presidente da República disse identificar-se totalmente com o apelo da UGT e parceiros sociais para a rápida concretização do acordo de "salvação nacional", sublinhando que são eles que criam empregos em Portugal.
"Estou totalmente identificado com a declaração que foi produzida pela UGT, pela Confederação dos Agricultores de Portugal, pela Confederação da Indústria, pela Confederação do Turismo, pela Confederação do Comércio, em que esse parceiros sociais dirigem um veemente apelo aos partidos que estão a negociar para que coloquem de lado os interesses partidários, estejam à altura do momento e que tão rapidamente quanto possível cheguem a um acordo de salvação nacional", afirmou o chefe de Estado.
Cavaco sem garantias sobre acordo
Cavaco Silva relevou que foram os partidos que fixaram o prazo de uma semana para as negociações para o compromisso de "salvação nacional" e admitiu não ter garantia sobre a existência de um acordo no final.
"Continuo a confiar no sentido de responsabilidade dos partidos políticos, mas não tenho nenhuma garantia, como é óbvio, de que no final haverá acordo, não tenho, de forma nenhuma, mas quase que tenho a certeza que todos os partidos estão convencidos, embora alguns não queiram dizer, que esta é claramente a solução que melhor serve os interesses de Portugal", disse.
Relevando que foram os próprios partidos que "fixaram a si próprios o prazo de uma semana" para a conclusão das negociações, Cavaco Silva admitiu, contudo, que nas conversas que manteve com os líderes partidários antes do início das reuniões interpartidárias também mencionou "uma semana".
Porém, acrescentou, nas conversas com Pedro Passos Coelho, António José Seguro e Paulo Portas também lhes transmitiu que "deviam ser eles que conhecem bem a situação do país e a importância de tão rapidamente quanto possível chegar a um acordo que deviam fixar um prazo".
"Eles logo na primeira reunião fixaram o prazo de uma semana", revelou.
O chefe de Estado disse ainda aguardar os resultados das negociações com "serenidade", sublinhando que não pode fazer mais do que "confiar".
"O presidente da República não é parte das negociações, são os partidos que devem negociar", defendeu.
Na quarta-feira da semana passada, em comunicação ao país, o Presidente da República, Cavaco Silva, propôs que um acordo tripartido, a que chamou "compromisso de salvação nacional", assente em "três pilares".
Em primeiro lugar, defendeu, esse acordo "terá de estabelecer o calendário mais adequado para a realização de eleições antecipadas" e "a abertura do processo conducente à realização de eleições deve coincidir com o final do Programa de Assistência Financeira", prevista para junho de 2014.
Em segundo lugar, deve assegurar o apoio às medidas necessárias para que o Estado português regresse ao financiamento nos mercados no início de 2014 e para que se complete "com sucesso" o referido programa de resgate a Portugal que esses três partidos subscreveram em 2011, defendeu o Presidente, em comunicação ao país.
Em terceiro lugar, o chefe de Estado disse pretender que esse acordo tripartido inclua um entendimento "entre os três partidos que assegure a governabilidade do país, a sustentabilidade da dívida pública, o controlo das contas externas, a melhoria da competitividade da nossa economia e a criação de emprego" após as próximas legislativas.
Na sequência desta proposta, os três partidos iniciaram as conversações no domingo e já mantiveram cinco reuniões públicas.