Cavaco aponta desequilíbrio nas contas, endividamento e competitividade como "raizes" da crise
O Presidente da República apontou, esta quarta-feira, como a "raiz" da crise portuguesa o desequilíbrio das contas externas, o excesso de endividamento relativamente ao estrangeiro e a perda de competitividade, reconhecendo que Portugal vive uma das crises mais profundas.
Corpo do artigo
"Os últimos anos expuseram de forma evidente e até dramática os desequilíbrios da economia portuguesa e a insustentabilidade do caminho que vinha a ser seguido", constatou o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, numa intervenção na abertura do IV Congresso Nacional dos Economistas, que decorre em Lisboa.
Numa análise das causas da crise em que Portugal se encontra "mergulhado", Cavaco Silva considerou que a sua raiz reside "primordialmente" na perda de competitividade, no desequilíbrio das contas externas e no excesso de endividamento do país relativamente ao estrangeiro, reconhecendo que, perante "o risco de colapso financeiro da economia", se tornou "inevitável" o estabelecimento de um acordo de assistência financeira.
Por isso, frisou, agora "o caminho que melhor garante a defesa do superior interesse nacional é o do cumprimento dos compromissos que Portugal assumiu, não obstante a sua dureza e as exigentes condições que foram impostas".
Numa intervenção onde fez questão de lembrar os alertas que deixou ao longo dos anos sobre as consequências que teria a acumulação de défices externos e do aumento do endividamento, Cavaco Silva voltou a reconhecer a "situação muito difícil" que Portugal atravessa, admitindo que "o país vive uma das crises mais profundas da história" da sua democracia.
"A esperança não deve ser confundida com optimismo cego, nem com a aceitação acrítica de soluções ilusórias. O tempo de vivemos é um tempo de realismo. Todos sabemos que temos pela frente uma caminhada longa e com grandes obstáculos, pelo que o alarmismo, a desinformação ou a distorção da realidade em nada contribuirão para fomentar a confiança de que tanto necessitamos para o crescimento económico e a atracção de investimentos externos", defendeu ainda o chefe de Estado.
Apesar de ter centrado o seu discurso na situação portuguesa, Cavaco Silva deixou ainda uma nota relativamente à Europa, abordando a possibilidade defendida por algumas "vozes" da Grécia sair da Zona Euro, como solução para os problemas de competitividade de Estados membros e as dificuldades de financiamento que enfrentam
Lembrando que já se falou anteriormente das "consequências dramáticas" que tal decisão poderá ter para um país da Europa do Sul, o Presidente da República citou Jean Pisani-Ferry, um especialista de questões europeia.
"Pisani-Ferry concluiu que uma saída da zona Euro levaria a uma situação caótica, seria economicamente destrutiva, financeiramente ruinosa e socialmente devastadora. Eu acrescentaria que seria muito provável que o caos se estendesse à área política, não sei se qualquer Governo sobreviveria a uma saída da Zona Euro", disse.
Além disso, acrescentou, existe ainda um obstáculo jurídico, já que o Tratado europeu prevê a entrada, mas não a saída de um Estado da Zona Euro.