O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, recuperou, esta segunda-feira, um texto seu de 1982, quando se "antecipava a segunda vinda do FMI", para defender a "contribuição decisiva" dos economistas na formação da decisão política.
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"Se bem que desde essa altura muito se tenha evoluído a vários níveis, o facto é que a gravidade de alguns dos velhos problemas que subsistem e dos novos problemas que entretanto emergiram exige mais do que nunca uma contribuição decisiva da parte dos economistas", afirmou.
Cavaco Silva discursava no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), na cerimónia comemorativa dos cem anos da instituição, que agraciou com o título de Membro Honorário da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.
Citando partes do seu artigo publicado em Fevereiro de 1982 na revista Economia, Cavaco Silva disse que continua a entender que "cabe aos economistas convencer os decisores políticos e outros decisores da sua utilidade" e que "as decisões económicas baseadas nos seus conhecimentos têm mais possibilidade de acertar do que as decisões baseadas na ignorância".
"Ontem, como hoje, a questão essencial reside na maneira como a ciência e a investigação podem ajudar a compreender o mundo em que vivemos", disse, defendendo a necessidade de manter a capacidade de "reflexão, de medir e prever o longo prazo, de modo a que as instituições não fiquem prisioneiras do imediato".
Cavaco Silva sublinhou, citando ainda o texto de 1982, que "assegurar um papel para os economistas significa reconhecer que são eles que trabalham e fornecem os ingredientes com que os políticos fazem a política económica".
As reformas económicas e sociais de que "ontem como hoje o país precisa podem ser produtivas e justas, se feitas de forma correta, mas também podem ser desastrosas e injustas", se forem feitas de forma errada.
O Presidente da República, que à altura do texto já tinha exercido o cargo de ministro das Finanças e do Plano do Governo AD, entre 1980 e 1981, e se encontrava a dar aulas no ISEG, considerou de "plena actualidade" uma recomendação que então deixou: caso as propostas dos economistas não sejam aceites por quem tem o dever de decidir, "o economista não deve resignar-se com facilidade", mas "o que não pode aceitar é trair as regras do método científico e subverter a lógica do seu raciocínio de modo a produzir as conclusões desejadas pelos seus clientes".