Três reuniões entre Passos e Portas não desfizeram o nó da coligação. O presidente da República, que lhes deu tempo para se entenderem, exige uma solução governativa estável. O impasse mantém-se.
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Na ótica de Cavaco Silva, só um efetivo compromisso do CDS - que pressupõe a permanência do partido no Governo - constitui seguro de vida da coligação. Segundo apurou o JN, não obteve porém do primeiro-ministro, na reunião desta quinta-feira, garantias nesse sentido.
Ao marcar para segunda-feira próxima audiências com os partidos, Cavaco revelou, com efeito, que prefere um acordo duradouro, capaz de evitar a eclosão de novas crises, a uma alternativa instantânea, mas pouco sustentada. Não deixará por isso de ouvir a sociedade civil e os parceiros sociais. esta sexta-feira, participa em Belém numa iniciativa, anteriormente marcada, com um conjunto de economistas. Percebe-se que não quer ser de novo apanhado em contrapé, depois do episódio da posse dos novos membros do Governo, no dia em que Portas se demitiu.
Na curta declaração aos jornalistas após o encontro com o presidente, Passos usou expressões cifradas para manter a chama acesa. Nunca aludindo à permanência de Portas no Governo, reconheceu implicitamente que o impasse se prolonga.
Com efeito, afirmou estar ainda à procura de "uma fórmula para garantir o apoio político do CDS" ao Governo - o que pode indiciar a via de um acordo de incidência parlamentar, que deixe o PSD sozinho no Executivo. E voltou a dizer que tudo fará para garantir "as condições que são necessárias para que o Governo prossiga o seu trabalho".
Se Passos pretendia emitir uma mensagem tranquilizadora, o resultado foi o oposto: a incerteza mantém-se. Mas o esforço para encontrar uma plataforma de entendimento também, já que o ministro-adjunto Poiares Maduro, pelo lado do PSD, e o ministro da Solidariedade e da Segurança Social, Mota Soares, pelo CDS, estiveram ontem mesmo reunidos.
Neste quadro fluido e incerto, continua por apurar se Paulo Portas recua na sua "irreversível" decisão de se demitir de ministro. Sabe-se, isso sim, que para manter tudo em aberto o chefe do Governo não pediu a Cavaco Silva a sua exoneração.
O JN apurou que Jorge Moreira da Silva foi contactado para exercer a pasta dos Negócios Estrangeiros. O facto de a informação ter sido oficialmente desmentida pode justificar-se pela necessidade de não introduzir grãos na engrenagem da negociação com o CDS.
A ascensão do vice-presidente executivo do PSD à chefia da diplomacia não é incompatível com a permanência de Paulo Portas no Governo. No âmbito da grande remodelação que preconiza, o CDS insiste na priorização da economia, campo onde gostaria de adquirir maior peso. O reforço de poder do partido seria o preço a pagar por Passos Coelho para salvar a coligação, poupando o país a mais danos, como as ondas de choque nos mercados.
Um eventual cenário de ascensão de Portas a vice-primeiro-ministro satisfaria essa pretensão, caso assumisse a responsabilidade direta pela área económica. Instalado num lugar nevrálgico, poderia concretizar um duplo objetivo. Por um lado, ser o rosto de uma nova fase de dinamização da economia nacional. Por outro, conter os ímpetos da nova ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque.
A herdeira política de Vítor Gaspar, que quererá prosseguir a estratégia de austeridade, não seria, assim, sacrificada ao "caderno de encargos" apresentado pelo CDS.