Houve mais temas em discussão - reforma do sistema eleitoral, défice, Europa -, mas manteve-se o tom agreste entre os candidatos às primárias. No segundo debate, Costa reduziu a seis as 80 propostas de Seguro. O próximo será dia 23 na RTP.
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António Costa, que tem sido sucessivamente acusado de não apresentar propostas, classificou as 80 medidas do "contrato de confiança" de António José Seguro como sendo uma réplica do programa eleitoral apresentado por José Sócrates em 2009.
"A maior parte das propostas são banais, outras são ambíguas e, na comparação com 2009, apenas seis propostas e meia são novas", contabilizou o autarca de Lisboa, acrescentando ainda que parte dessa novidade tem a ver com a atualidade, como é o caso da contribuição extraordinária de solidariedade (CES), que entretanto já foi resolvida. E continuou: "Seguro tende a ter uma visão de que tudo gira em volta dele, de que tudo começou com ele, mas estas propostas não são dele, são património histórico do PS".
"Fica-te mal apoucar esse contributo e dizeres que isso é cópia de programas anteriores. Fica-te mal dizeres isso", reagiu o ainda secretário-geral do partido, naquela que foi talvez a sua frase mais repetida no confronto de ontem na SIC. Seguro tentou contrariar a acusação alegando que "o plano de reindustrialização é completamente novo", mas Costa negou de imediato. "Não é, é uma cedorrência feliz do Plano Tecnológico", outra das bandeiras dos governos de José Sócrates.
O segundo de três debates televisivos - os dois primeiros em dois dias seguidos -, em que os candidatos às primárias de 28 de setembro se apresentaram beneficiando já de múltiplas análises políticas feitas à sua prestação inicial, ficou assim marcado por uma alteração na atitude de Costa e pela continuidade da estratégia de Seguro.
Ao contrário do que sucedera no primeiro debate, o presidente da câmara de Lisboa atacou mais do que se defendeu - "Tens falado muito de cor, com muito do que te escrevem as agências de comunicação e com muito pouco de estruturado", provocou - e concretizou propostas.
Seguro manteve a estratégia de ataque - "Afinal tens propostas?", ironizou - e não soube o que dizer quando Costa anunciou que pretende levar a cabo "a democratização da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional" (CCDR). "Os presidentes das CCDR devem deixar de ser eleitos pelos governos para passarem a ser eleitos pelos autarcas", afirmou.
Ao anúncio do autarca, que surgiu na sequência da crítica à apatia do PS em relação ao projeto de fusão de freguesias iniciado pelo então ex-ministro Miguel Relvas - "o PS refugiou-se numa posição cómoda, recusou participar e deu mãos livres ao Governo", criticou -, Seguro justificou-se dizendo que foi "surpreendido" com o acto consumado em setembro de 2011, uma vez que, três meses antes, em Julho, tinha-se "disponibilizado" a Passos Coelho para colaborar no processo. E voltou a apontar o dedo a Costa. "Não estive à janela do município à procura do melhor momento para avançar".
António Costa repudiou a afirmação, garantindo que "um autarca anda sempre no terreno". Mas, no fim, saudou o adversário e, dirigindo-se aos telespetadores, usou a terceira pessoa do plural: "Nós contamos consigo".