<p>A decisão de não publicar, a 1 de Fevereiro, a habitual crónica de Mário Crespo baseou-se em razões éticas, assegurou, ontem, terça-feira, no Parlamento, o director do JN. José Leite Pereira afirmou não confundir "censura com actos de vitimização pessoal".</p>
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O texto de opinião do jornalista - que viria a ser conhecido através do site do Instituto Sá Carneiro na Internet - dominou boa parte da audição na Comissão de Ética. Algo expectável, estando em causa a acusação de censura feita por Mário Crespo, a propósito de uma crónica em que aludia a supostas referências à sua pessoa por parte do primeiro-ministro. À mesa de num restaurante, José Sócrates terá dito que ele era "um problema a resolver".
"Não cedo espaço a cronistas para escreverem o que quiserem. Tenho uma responsabilidade ética pelo que é publicado", disse Leite Pereira, repetindo a argumentação já apresentada nas páginas do JN: a crónica era uma "quase notícia", pelo que exigia contraditório, e reproduzia uma conversa que "é privada e privada deve manter-se". Quanto à acusação de Crespo de que o contacto telefónico teve lugar quando o jornal já estava impresso, fez questão de assinalar, com recurso a facturas detalhadas, que foi feito às 23.06 horas de 31 de Janeiro, tendo a edição do dia 1 fechado às 00.57 horas.
Embora admitindo que poderia ter sido encontrada "uma solução que agradasse a ambos", se Crespo o tivesse contactado num momento anterior, fez notar que o Conselho de Redacção apoiou a sua decisão. Só "por má fé", acrescentou, pode supor-se que não publicou a crónica a conselho do primeiro-ministro.
A propósito do exercício do contraditório, os partidos da Oposição confrontaram Leite Pereira com uma notícia publicada a 12 de Fevereiro, que, sob o título "Sucessão de Ferreira Leite discutida à mesa de restaurante", aludia a um encontro entre Marco António Costa, líder do PSD/Porto, e Passos Coelho, candidato à liderança do partido, sem audição dos envolvidos. O director do JN refutou a ideia de que relata uma conversa privada, mas acabou por reconhecer que a notícia constitui uma "especulação jornalística no limite do razoável".
Instado a pronunciar-se sobre pressões emanadas na Administração da Controlinveste, proprietária do JN, assegurou que não se intromete nos conteúdos publicados. A sua intervenção, garantiu, circunscreve-se a questões estratégicas, como a de passar de quatro para três edições regionais ou de reduzir o tamanho do jornal.
Rui Rio alvo de acusações
Leite Pereira admitiu que o JN tem "um problema sério e grave com a Câmara do Porto", que "usa e abusa do direito de resposta". E acusou Rui Rio, presidente da edilidade, de ter tentado que a Administração do jornal, no tempo em que integrava o grupo Lusomundo, demitisse a Direcção.
A questão das relações com o município foi introduzida por Pedro Duarte no início da audição. O deputado do PSD referiu-se especificamente ao caso de uma vereadora que foi recentemente objecto de várias notícias, sem ter sido ouvida.
Leite Pereira, que salientou o facto de uma das notícias reproduzir afirmações do advogado da autarca, disse que a Direcção do JN considerou inaceitáveis os termos em que quis exercer o direito de resposta. Convidada a reformulá-lo ou a aceitar uma entrevista, optou por reenviar o texto recusado.