As "contas minuciosas" que Governo e PSD estão obrigados a fazer ainda não batem certo. E, por isso, ontem, segunda-feira, as partes não conseguiram chegar ao entendimento que garantirá a aprovação do Orçamento do Estado para 2011. O acordo será fechado hoje, terça-feira.
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"Convicção". Curiosamente, ou não, a mesma expressão foi usada pelas fontes que têm seguido o processo negocial de perto, ontem ouvidas pelo JN. As partes estão convictas de que hoje sairá fumo branco da sala do Parlamento, onde delegações do Governo e do PSD tentam, há três dias, alcançar um acordo.
A "convicção" é puxada por várias circunstâncias. Os mercados internacionais continuam atentos ao evoluir da situação; amanhã, Portugal faz uma nova emissão da dívida; nos dias seguintes, o primeiro-ministro tem Conselho Europeu - e quererá chegar lá sem o cutelo do OE; na próxima quarta-feira o documento será votado na Assembleia da República.
Apesar de uma fonte governamental ter dito ao JN que "não há pressa" para fechar o acordo, uma vez que as contas, do lado da despesa e da receita, têm que ser vistas com minúcia, a verdade é que os esforços de aceleração do processo estão a ser feitos. Nota disso é a presença, hoje, na audiência em que José Sócrates recebe o PSD (enquadrada nas tradicionais rondas com os partidos para preparação do Conselho Europeu) de Pedro Passos Coelho (ler texto pág. ao lado). Dificilmente a negociação não passa por lá.
De resto, o encontro ocorre num dia em que o clima entre os negociadores está mais distendido. Ontem, os momentos de tensão acumularam-se ao longo do dia (ver filme do dia). A reunião matinal começou atrasada e demorou pouco. Minutos depois de as partes se terem ausentado para almoço, o presidente da República proferia uma declaração que foi por muitos entendida como uma sinal para Governo e PSD, sobretudo por se saber que Cavaco Silva tem acompanhado de perto o teor das negociações.
O PS deve manifestar "toda a abertura" para analisar as propostas que os partidos apresentarem para o OE, frisou o chefe de Estado à saída da cerimónia de atribuição de prémios do Concurso Nacional de Inovação BES.
Tenha, ou não, a frase do presidente da República funcionado como "recado", a verdade é que a tarde começou a dar frutos. Ou seja, o Governo pediu tempo para analisar os números com que o PSD fundamentou as propostas e voltou com um novo texto negocial. De volta à mesa das conversações, os sinais que começaram a sair da sala eram os de que o acordo começava a ser possível.
Pouco antes de Eduardo Catroga e Teixeira dos Santos saírem da reunião, pela primeira vez sem falarem aos jornalistas, já Passos Coelho, num jantar com militantes de Almada, ensaiava a justificação para o acordo. "De um eventual entendimento", não resultará num "Orçamento bom", mas num "Orçamento cuja responsabilidade é do Governo e que, atendendo às difíceis circunstâncias externas", o PSD "deixará passar". A mensagem começava também a "passar".