<p>Candidato presidencial Manuel Alegre reafirma apoio a José Sócrates e antecipa vitória numa segunda volta contra Cavaco Silva.</p>
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Defensor Moura acusa a sua candidatura de ter sido capturada pela extrema-esquerda, deixando livre o centro-esquerda para ser conquistado pela direita. Quer comentar?
É uma justificação da sua própria candidatura. Candidatei-me por decisão pessoal, não negociei com nenhum partido, nem sequer com o meu. Anunciei a minha disponibilidade a 15 de Janeiro. Depois, houve um partido que decidiu apoiar-me. E, em seguida, o PS. É um apoio de que naturalmente gosto. É o meu partido, a quem dei muitos anos da minha vida e que ajudei a enraizar na sociedade. A origem da minha candidatura é um movimento de intervenção e cidadania. São redes de cidadãos espalhados pelo país. Em 2006, quando não tinha o apoio do meu partido, fiquei a menos de 30 mil votos da segunda volta.
E agora qual é sua expectativa?
O presidente que está em funções está numa situação de vantagem. Pode fazer campanha como presidente. E tem facilidades que os outros não têm. Portanto, é um combate desigual. Mas há grandes hipóteses de haver uma segunda volta. Pode ser derrotado à primeira. Mas gosto de ser realista e não alimentar falsas expectativas. Portanto, a expectativa mais realista é haver uma segunda volta e Cavaco ser derrotado. Será uma luta dura e renhida, já está sê-lo. Passei a “barreira de som”, que é a dos 30%. Isto está a bipolarizar.
As candidaturas de Defensor Moura, Fernando Nobre e Francisco Lopes contribuem ou não para forçar uma segunda volta?
Em 2006, havia quatro candidaturas e, como disse, não fui à segunda volta por muito pouco. Será possível se o objectivo de cada uma dessas candidaturas for derrotar Cavaco Silva. A candidatura comunista é útil, porque ninguém mobiliza melhor o eleitorado do PCP do que o próprio PCP. Sobre Fernando Nobre e Defensor Moura não quero pronunciar-me. E até tenho pena que não haja uma outra candidatura à Direita. Têm medo que eu ganhe. A esquerda neste aspecto é mais ousada.
Seria bem-vinda uma candidatura de Ribeiro e Castro?
Havendo uma parte do eleitorado da direita que está descontente com o presidente da República, seria normal que aparecesse.
Descontente por que razão?
Penso que uma delas é o facto de não ter vetado o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Defensor Moura diz que é com resignação que o PS o apoia.
Isso não posso aceitar. O problema é que vir a uma eleição presidencial dar a cara e defrontar um presidente que está lá não é fácil. A verdade é que ninguém se chegou à frente. Não impedi ninguém de o fazer. Houve muito nomes de que se falou e ninguém se chegou à frente. Depois houve uma sondagem sobre o melhor candidato para defrontar Cavaco. Em primeiro lugar, muito destacado: Manuel Alegre. Se calhar os dirigentes do PS viram essa sondagem. E não impedi nenhum dos outros candidatos de que se falou de se apresentarem.
Por que não o fizeram?
Isso é o que pergunto. Na política, há valores essenciais, como a coragem de ir ao combate, de correr riscos. Era muito mais cómodo ter ficado em casa, não tenho nada a provar. Já fui candidato e derrotei o candidato oficial do partido. E não era um candidato qualquer.
E a posição de líderes distritais, como o do Porto, antes da decisão oficial, contra o apoio do PS?
É o direito deles.
Mas sabe que há vários socialistas que discordam desse apoio...
Mas tenho muito mais que concordam. Socialistas e não socialistas.
O seu percurso fica marcado por um ciclo de críticas ao Governo de Sócrates e a outros do PS. Esse seu lado mais crítico desapareceu por causa da eleição presidencial?
Não sou deputado. Não estou a combater nenhum Governo. O meu combate é com Cavaco. Não tenho de apoiar nem a oposição nem o Executivo. Não estou a candidatar-me contra Sócrates, que é meu apoiante. Mas se tiver alguma discordância com ele, algo que tenha a ver com o país, com o exercício da Presidência da República, com certeza que a manifestarei.