O antigo Presidente da República Mário Soares lembra a promessa de Cavaco Silva de que exerceria uma magistratura de influência mais activa. "O presidente da República ficou estranhamente silencioso. Fiz-lhe um apelo público 'angustiado' para que evitasse a crise. Quanto a mim, podia tê-lo feito", afirma Mário Soares.
Corpo do artigo
A posição do antigo primeiro-ministro e fundador do PS consta do livro "Portugal Tem Saída - Um Olhar Sobre a Crise", uma reflexão entre Soares e a jornalista do Público Teresa de Sousa.
O antigo Presidente da República recorda que Cavaco Silva "alegou o facto de as coisas 'terem sucedido com muita rapidez' o que lhe retirou margem de manobra" e tira depois uma conclusão: "É uma explicação seguramente verdadeira, mas faz-nos reflectir. Sobretudo depois da promessa que fez aos portugueses de exercer uma magistratura de influência mais activa".
Afirmando que a oposição "falhou" quando levou à queda do Governo socialista, numa "insensatez tremenda", Soares sublinha que o PSD "não teve qualquer vantagem em ter precipitado a crise política, no momento em que o fez".
Ainda sobre os sociais-democratas, o antigo chefe de Estado diz que "há grupos" no partido que não gostam de Pedro Passos Coelho e que só o queriam como primeiro-ministro para o destruir, depois de realizado "o trabalho mais difícil e impopular".
Quanto à derrota do PS nas legislativas, Mário Soares afirma que é fácil explicar: "[O PS] teve sempre tudo contra ele à direita e à esquerda".
Sobre José Sócrates, Soares afirma que o antigo primeiro-ministro e ex-secretário-geral dos socialistas foi "um líder forte", com "grandes virtudes" e "alguns defeitos" também.
"Foi talvez o mais atacado e injuriado dos políticos portugueses desde sempre. Resistiu a tudo. E saiu com honra e grande dignidade", refere Mário Soares.
Quanto à União Europeia, Mário Soares afirma que os actuais dirigentes não querem ver que o neoliberalismo e o capitalismo de tipo financeiro e especulativo que daí resultou falharam.
"Muitos europeus começam a compreender que a União, ou muda o seu modelo económico-social, ou entrará em irreversível decadência e, por ventura, mesmo em desagregação", afirma.
Soares refere-se concretamente à chanceler alemã, dizendo que Ângela Merkel "já não é uma democrata-cristã no sentido clássico", considerando que tem sido uma "tragédia" para o projecto europeu a transformação das democracias-cristãs em partidos populares.
O livro é lançada na segunda-feira à tarde, num centro comercial de Lisboa, com apresentação do advogado Vasco Vieira de Almeida.