Sem espanto, o cada vez mais curto areal da praia Maria Luísa, em Albufeira, voltou ontem a encher-se de pessoas que procuraram o local para apanhar sol e ir a banhos.
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Ninguém estava indiferente à tragédia do dia anterior - o assunto dominava as conversas e as leituras de jornais -, mas tudo parecia estar a regressar à normalidade: os toldos e camas foram alugados, o restaurante voltou a ficar com as mesas lotadas e até houve quem voltasse a estender a toalha junto às perigosas arribas.
"Não é que me agrade muito, mas a praia tem vindo sucessivamente a encurtar e temos de estar mais próximos das rochas", desabafava Arlindo Costa, 51 anos, que no dia anterior assistiu, emocionado, com a mulher, ao resgate das vítimas.
Para o casal, que há 30 anos passa férias no local, o acidente de anteontem "era uma situação que mais tarde ou mais cedo haveria de suceder", apontando o dedo às obras sucessivas em cima das arribas, à construção de vivendas e à passagem de carros e pessoas.
Ontem, garantiu Arlindo, tinha sido colocado na falésia um novo sinal, alertando para o perigo de derrocada. Mas nem isso impediu dois amigos brasileiros de jogarem à bola em frente à rocha sinalizada. "Não tenho medo. Se cair, dá para a gente correr", dizia Fábio de Almeida, 29 anos, considerando que o que aconteceu às cinco pessoas "podia ter acontecido a qualquer um".
Durante todo o dia foram também muitos os que se deslocaram à praia só para ver o local do acidente e tentar perceber como tudo aconteceu.
A "curiosidade" levou Raul Félix, 36 anos, a desviar-se da praia da Oura para o local do acidente. O veraneante, residente em Felgueiras, admite que "nem sempre a gente respeita a sinalização" quando está à procura de uma sombra, mas insiste que "o perigo está em todo o lado".
Menos tolerante, Anabela, 49 anos, residente em Lisboa, apontava o dedo acusador às autoridades. "Todas as instituições deste país são responsáveis. Toda a gente sabia do problema", diz, apontando as semelhanças com o caso da queda da ponte de Entre-os-Rios.
"Os culpados são sempre os que passam no local na hora errada. Isto é o retrato deste país: nunca ninguém tem culpa", clamava Anabela-, considerando que se a rocha estava em perigo devida estar vedada e a sinalização mais evidente.
Nas praias vizinhas, a tragédia também não era indiferente a ninguém mas, ainda assim, havia quem aceitasse correr o risco. Margarida Passos Coelho, 69 anos, natural de Barcelos, ficou à sombra de um rochedo enquanto o marido e os compadres foram dar uma volta pela praia de Olhos de Água.
"Já ando sempre a olhar para trás, à cautela", dizia, ao JN, enquanto lia ao jornal para se pôr ao corrente da tragédia. "Já tinha dito ao meu marido: 'parece impossível deixarem aqui este mono, está perigoso'. Deviam tê-lo retirado."