A jornalista Manuela Moura Guedes afirmou hoje, quarta-feira, que "também" os investigadores do caso Freeport são pressionados, e não apenas os jornalistas, dizendo conhecer o caso de uma inspectora que "recebe telefonemas dos assessores do primeiro ministro".
Corpo do artigo
"Não são só as redacções dos jornais que recebem telefonemas, também os investigadores do caso Freeport foram [pressionados]. A inspectora Alice [Fernandes], de Setúbal, recebe telefonemas de assessores do primeiro ministro", afirmou Manuela Moura Guedes, acrescentando que a inspectora "é muito permeável a esses telefonemas".
A jornalista está a ser ouvida na Comissão de Ética, Sociedade e Cultura da Assembleia da República na sequência de notícias que dão conta de um alegado plano do Governo para controlar a comunicação social.
Segundo a jornalista, "dois elementos do Ministério Público puseram o lugar à disposição porque a investigação do Freeport não estava a ser feita convenientemente por causa da inspectora Alice". A Polícia Judiciária de Setúbal é que coordena a investigação ao caso Freeport, relacionado com o licenciamento de um centro comercial em Alcochete quando José Sócrates era ministro do Ambiente.
Moura Guedes disse ainda que quando o Jornal de Sexta, pelo qual era responsável, foi suspenso, na primeira semana de Setembro de 2009, estava preparada uma peça sobre o caso Freeport que, apesar da suspensão do programa, "acabou por ir para o ar até por insistência de Santos Silva [na altura ministro dos Assuntos Parlamentares, responsável pela pasta da Comunicação Social]".
A jornalista acrescentou que na sexta feira em que a peça foi para o ar, o director da Polícia Judiciária, Almeida Rodrigues, referiu, em declarações à Lusa, uma carta anónima de que a peça inicialmente daria conta mas de que a TVI nunca falou.
"Na peça não tratávamos nunca de uma carta anónima. As declarações foram feitas à agência Lusa antes de a peça ter ido para o ar. Quem faz campanha contra quem?", questionou a jornalista.
As declarações de Almeida Rodrigues à Lusa sobre uma carta anónima faziam, contudo, referência à revista Sábado, que no dia anterior, véspera do jornal da TVI, adiantava que a PJ de Setúbal mandara juntar ao processo Freeport uma carta anónima que implicava directamente o primo de José Sócrates.
Moura Guedes referiu ainda declarações do jornalista da TVI Paulo Simão na altura em que o Jornal de Sexta foi suspenso.
"Ele disse - no dia em que o Jornal foi suspenso - que saiu da TVI porque o director geral lhe disse que deveria seguir nos jornais que editava a filosofia do Jornal de Sexta. Soube depois que ele foi levado pelo Rui Pedro Soares [ex-administrador da PT] para o Taguspark", afirmou.