"Não estará longe o dia em que o Estado não terá dinheiro para pagar aos funcionários", advertiu, ontem, quinta-feira, Passos Coelho, exemplificando com hospitais e universidades. Na Saúde, defendeu "um sistema misto" em que os utentes tenham mais "liberdade de escolha".
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O alerta sobre "a linha de insustentabilidade" da despesa pública foi lançado pelo líder do PSD na Universidade Católica do Porto, onde considerou urgente uma revisão constitucional.
Passos Coelho insistiu que um dia não haverá dinheiro para "pagarem aos professores, médicos e enfermeiros". "Quanto mais juros pagarmos por aquilo que pedimos emprestado, menos conseguimos ter liberdade para gastar naquilo que é preciso. E então chegamos ao fim do mês e os administradores dos hospitais e os reitores das universidades públicas começam a cortar naquilo que é relevante", justificou. Em Portugal, reforçou o líder, "esse dia está muito próximo".
A propósito, destacou que o bastonário da Ordem dos Médicos alertou para que "os hospitais podem não prestar, nas urgências, os serviços necessários porque não podem contratar médicos". "Como se resolve a situação?", questionou Passos Coelho. Tem de haver "uma melhor gestão". Porém, melhorá-la hoje "só adia o problema" porque, em vez de faltar dinheiro dentro de um ou dois anos, esse cenário vai "colocar-se na mesma", daqui "a oito ou dez".
O que é preciso, reclamou, "é reformar amplamente o sistema" e, "com esta Constituição não é possível". Por isso, numa crítica ao PS, considerou que "é uma miopia grave" dizer que "não vamos debater a revisão constitucional enquanto houver crise".
"Diálogo de surdos"
"Este diálogo constitucional, defendeu, "tem de começar o mais depressa possível". Mas admitiu que há "um diálogo de surdos" porque o PS disse várias vezes "nem pensem nisso". Se persistir nesta visão, "quem perde é o país, não é o PSD", alertou.
Na Saúde, não propôs um pacote de medidas concretas, mas defendeu "uma alteração constitucional" que permita "a introdução da noção de co-pagamento". E, com isto, "a livre escolha" por parte do utente. Ressalvando que é fundamental garantir os direitos à saúde por parte dos utentes "com menores rendimentos", resumiu a sua posição propondo "um sistema misto, em que as pessoas possam ter liberdade de escolha progressiva" quanto ao "local onde querem ir". Na saúde, justificou, deve existir "uma certa competição" entre a oferta pública, a privada e a de carácter social.
Porque o doente não tem escolha, exemplificou, paga "250 euros", quando podia "pagar 120" e ser melhor atendido. Além de um "estímulo à eficiência", defendeu, "mais controlo" e mais "gestão privada" dos serviços públicos. Quanto ao cheque-saúde, defendido pelo CDS, alertou, no limite, para o risco de todas as pessoas optarem pela oferta privada e isso ser insuportável para o Estado, em termos de pagamento desta factura e dos custos fixos.