O "compromisso duradouro" entre órgãos de soberania, ontem exigido por Passos, não significa cedência. Antes a intenção de amarrar todos à estratégia que traçou para superar a "emergência nacional".
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Quem esperava que o chefe do Governo anunciasse medidas específicas para colmatar a brecha financeira aberta pelo acórdão do Tribunal Constitucional sobre o Orçamento do Estado (OE) para 2013, saiu desiludido. Quem tinha prognosticado que o caminho seria um novo resgate, também perdeu a aposta. Igual a si próprio, Passos prometeu manter-se ao leme "até ao limite" das suas forças.
O que muda, então, de essencial, a intervenção de Passos Coelho, aguardada com a expetativa que o clima de tensão política alimentava? Aparentemente muito pouco, na exata medida em que Passos não mostra disponibilidade para se desviar da linha que concebeu. Uma atitude que, a seus olhos, é hoje ainda mais justificável, em função dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade de quatro artigos do OE.
Para o primeiro-ministro, os juízes do palácio Ratton agravaram uma situação que já era de emergência. Tornaram a execução orçamental um "quebra-cabeças", podem comprometer a libertação da próxima tranche de assistência financeira externa e atrapalhar a negociação de novas condições do empréstimo, que terá lugar quarta-feira na Irlanda.
Neste contexto, Passos Coelho não atira a toalha ao chão. E quer que os outros agentes políticos o acompanhem na jornada. Não apenas os partidos do chamado "arco da governação" (PSD, PS e CDS), mas também o presidente da República, implicitamente convocado a envolver-se no tal "compromisso duradouro". Afinal, Cavaco Silva assinou um dos pedidos de fiscalização da constitucionalidade. E se quer ser consequente com os seus constantes apelos ao consenso, deve agir.
Sem se pronunciar sobre a eventualidade de uma remodelação do Governo (alguma mexida terá de sofrer, na sequência da demissão do ministro Miguel Relvas), Passos assegurou que não serão de novo aumentados os impostos. Uma garantia que satisfaz em pleno o parceiro de coligação, como resulta evidente da sua primeira reação.
O partido de Paulo Portas, que sempre defendeu a necessidade de cortes mais profundos na despesa pública, não se inibe de considerar que a ação pelo lado da receita seria "trágica". Está, porém, consciente de que essa via não pode dispensar as áreas sociais, de que aliás é parcialmente responsável no Governo. Daí que Nuno Magalhães insista na ideia de que os esforços para encontrar soluções devem abranger outras forças. "Chegou a hora da verdade", advertiu o líder parlamentar.
Do lado do PS, para lá da reação expectável, sai, ainda hoje, uma reunião do Secretariado Nacional. Ao abdicar de responder de viva voz ao primeiro-ministro, António José Seguro deixou o palco todo livre ao seu antecessor, José Sócrates, ontem regressado ao comentário político televisivo.