PCP diz que eleitores condenaram políticas europeias de "exploração dos trabalhadores"
O PCP considera que os eleitores gregos e francesas votaram, este domingo, pela mudança e condenaram as políticas europeias "de exploração dos trabalhadores e dos povos", mas teme que, apesar disso, os resultados se traduzam "em mais do mesmo".
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"Os resultados expressam sobretudo uma vontade de mudança, quer por parte do povo grego, que por parte do povo francês, e sobretudo uma condenação muito forte das forças políticas, independentemente da sua natureza ideológica, que têm defendido, assumido e executado as políticas da União Europeia de exploração dos trabalhadores e dos povos e de ataque à soberania dos próprios estados", afirmou Ângelo Alves, da Comissão Política do PCP.
Os comunistas portugueses consideram que este é o "traço mais marcante" das presidenciais francesas e das legislativas gregas de hoje, mas sublinham que "uma coisa é a vontade expressa" pelos eleitores e outra é "a incidência real e as mudanças políticas reais que vão acontecer" em França, na Grécia e também na Europa em geral.
"Em relação a França, [o socialista] François Hollande oscilou entre um discurso em que se tentou demarcar de uma política que o seu partido, e a família europeia a que pertence, defendeu e tem vindo a executar em outros países, e o chamado discurso da responsabilidade europeia, em que foi muito claro que nada seria posto em causa, nomeadamente, o tratado orçamental", explicou Ângelo Alves, em declarações à Lusa.
O dirigente do PCP destaca que, "aliás, uma das propostas mais emblemáticas de François Hollande pode resumir-se" desta forma: "Colou ou quer colar um autocolante que tem as palavras crescimento e emprego em cima de um tratado que impede esse mesmo crescimento e a criação de emprego, como está bem evidente na espiral recessiva e de austeridade que vive neste momento a Europa".
Quanto à Grécia, acrescentou, apesar da "forte condenação aos dois partidos do sistema", a questão é que "o próprio sistema eleitoral, com o bónus de 50 deputados ao partido mais votado, poderá vir a possibilitar um acordo entre a Nova Democracia e o PASOK".
"E poderemos vir as ter mais do mesmo. Um Governo chamado de unidade nacional cujo ponto comum, o fator de unidade, será cumprir o memorando [de ajuda externa] e as medidas de exploração dos trabalhadores e do povo grego, pelo menos, até 2015. Portanto, poderemos ver goradas as expetativas e a vontade expressa pelo povo grego de mudanças reais", sublinhou.
Para o PCP há ainda uma outra "leitura importante" das eleições de hoje nestes dois países europeus: "É que a luta social e de massas, quer em França, quer na Grécia, mas com mais incidência na Grécia, teve uma influência direta nos resultados".
"Será essa luta de massas e essa luta social o fator determinante para virmos a aferir se esses resultados se poderão traduzir no futuro em reais mudanças políticas. Tal como em Portugal será a luta de massas e a luta social um dos fatores mais determinante para a mudança politica", acrescentou.
Ângelo Alves considerou ainda uma "notícia positiva" a saída de Nicolas Sarkozy da Presidência francesa por ser "o afastamento" do "poder executivo" de uma "direita reacionária", "com todos os perigos que acarretava do ponto vista económico e social e do ponto de vista dos valores, com referências e políticas muito agarradas ao racismo, à xenofobia, ao discurso anti- imigrantes".
O socialista François Hollande ganhou hoje as eleições presidenciais francesas, derrotando, na segunda volta, o ainda Presidente Nicolas Sarkozy.
Na Grécia, as projeções oficiais das eleições legislativas que os conservadores da Nova Democracia (ND) obtiveram o maior número de votos, mas longe dos necessários para formar governo.