O Governo português suspendeu hoje, quarta-feira, o cônsul honorário de Portugal em Munique, Jurgen Adolff, de "todas as funções relacionadas com o exercício do cargo", na sequência da investigação na Alemanha de suspeitas de corrupção na venda de submarinos.
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O cônsul de Portugal terá recebido um suborno de 1,6 milhões de euros da Man Ferrostaal para ajudar a concretizar a compra de dois submarinos pelo Estado português em 2004, avança a edição online da revista "Der Spiegel".
Jurgen Adolff garantiu hoje, à Lusa desconhecer as acusações que lhe foram atribuídas no processo de compra de dois submarinos, bem como a decisão do Governo de o suspender de funções.
"Não sei de nada, nem faço ideia do que me está a falar", respondeu Jurgen Adolff ao ser contactado telefonicamente a partir de Lisboa.
Adolff asseverou que não tinha lido qualquer notícia na imprensa alemã ou portuguesa que lhe fizesse referência e não ter também conhecimento da sua suspensão, anunciada hoje de manhã pelo Governo português.
"Seria simpático se me tivessem informado de que estou suspenso", acrescentou o homem de negócios de Munique que é cônsul honorário de Portugal na capital da Baviera há 15 anos.
a partir de Lisboa.
O Estado português contratualizou com o consórcio alemão German Submarine Consortium (que integra a Man Ferrostaal) a compra de dois submarinos U-214 em 2004, quando Durão Barroso era primeiro-ministro e Paulo Portas ministro da Defesa.
De acordo com a revista alemã, a suspeita de corrupção contra a Ferrostaal, que actualmente é alvo de várias investigações na Alemanha, "é maior do que se pensava", visto que a empresa terá "não apenas pago, ela própria, luvas durante anos, mas também ajudado outras empresas a organizar este tipo de pagamentos".
No centro do escândalo de corrupção, realça a revista, "está a entrega de dois submarinos a Portugal", lembrando que o German Submarine Consortium ganhou em Novembro de 2003 o contrato no valor de 880 milhões de euros referentes à entrega de dois submarinos Tridente.
A revista avança que nos autos de investigação realizados pelas autoridades alemãs é referido que "um cônsul honorário português ajudou a concretizar o negócio" e terá alegadamente "recebido 1,6 milhões de euros em luvas pela sua ajuda".
De acordo com a "Der Spiegel", o diplomata, cujo nome não é referido, terá também organizado, no Verão de 2002, uma "reunião entre a administração da Ferrostaal e o antigo primeiro ministro português José Manuel Durão Barroso", actual presidente da Comissão Europeia.
As autoridades judiciais de Munique, que efectuaram várias buscas na passada quarta-feira na Ferrostaal, encontraram "mais de uma dúzia de contratos de consultoria suspeitos", que visavam "dissimular os canais de pagamento" para que "subornos pudessem ser enviados a responsáveis do Governo [português], dos Ministérios e da Marinha", refere a revista.
Parece que Ferrostaal não dependia exclusivamente de boas ligações do seu assessor para a realização do negócio com os submarinos. Acredita-se que um contrato de consultoria foi celebrado entre Ferrostaal e um sócio, por um lado, e um contra-almirante da Marinha portuguesa, por outro. O negócio, mais recentemente, foi no valor de € 1 milhão.
Um escritório de advocacia português também está poderá ter desempenhado um papel importante em assegurar que o contrato fosse adjudicado à Ferrostaal, e que muito dinheiro foi pago em troca.
A promotoria já identificou mais de uma dezena de suspeitos de corretagem e de acordos de consultoria relacionados com o negócio de submarinos. De acordo com os processos de inquérito, todos esses acordos foram projectados "para ofuscar as trilhas de dinheiro", de modo a passar de pagamentos "para os decisores políticos no governo Português, ministérios ou da marinha."
A Ferrostaal, que é detida em 70% por um fundo de Abu Dhabi e em 30% pela Volkswagen, escusou-se a comentar as acusações, alegando que as investigações estão em curso.
Além da Ferrostaal, o consórcio alemão Germain Submarine Consortium é integrado pela Thyssen-Nordseewerke e pela Howaldtswerke-Deutsche Werft HDW, esta com sede na cidade alemã de Kiel e responsável pela construção dos submarinos.