O presidente da República defendeu, esta sexta-feira, a reinvenção do setor dos transportes marítimos, apontando-o como "um setor de futuro" que não pode ser tratado como "um não-assunto" da sociedade e da economia nacional.
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"Não nos podemos resignar nem acomodar ao declínio da marinha de comércio nacional, tratando-o, além do mais, como um 'não assunto' da sociedade e da economia nacional. Após tempos de declínio, é possível voltar a emergir e a crescer", afirmou o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, numa cerimónia na Gare Marítima de Alcântara, onde se assinalou o 30.º aniversário da empresa de navegação Transinsular.
Defendendo a necessidade de "reinventar o setor dos transportes marítimos", que é "cada vez mais um setor de futuro na Europa", Cavaco Silva apontou "três poderosas razões" para essa aposta.
Em primeiro lugar, referiu, a internacionalização das economias significa mais trocas comerciais, sendo que 90% do volume do comércio mundial "viaja por mar", o que implica a necessidade de "mais e maiores navios para enfrentar este desafio".
Por outro lado, a segurança energética europeia requer mais terminais de gás natural liquefeito, mais metaneiros para o transportar e mais navios tanques para o transporte de petróleo.
Por último, os navios são muito mais eficientes energicamente do que o avião, o camião ou o comboio, sendo que na Europa "o transporte marítimo de curta distância em navios, novos e mais amigos do ambiente, está a ganhar apoios e será cada vez mais uma realidade".
"Para Portugal, o único país europeu de média dimensão que tem fronteiras apenas com um Estado vizinho, a importância geoestratégica do mar deveria ser ainda mais evidente", vincou.
Na sua intervenção, o Presidente da República fez ainda referência ao volume de negócios gerado pelo setor dos transportes marítimos, um "setor silencioso", "no sentido em que dele pouco ou nada se diz", mas que a nível mundial apresenta um volume de negócios superior a 350 mil milhões de euros.
"A presente dimensão da nossa marinha de comércio é um pálido vestígio do que foi outrora, nos idos anos 70, em que, em tonelagem, figurávamos na lista das 15 maiores marinhas de comércio do mundo. Tal decadência parece incomodar poucos em Portugal, com exceção, talvez, dos agentes do setor", lamentou.
Apontando a transformação da Lisnave numa das maiores indústrias de reparação naval do mundo como um caso que deve servir de exemplo, o Presidente da República avançou também algumas das razões porque a marinha de comércio é importante para Portugal, notando que dele dependem uma série de indústrias, como a construção naval, as indústrias de material e equipamento náutico, a engenharia e o design industrial, entre outras atividades.
O chefe de Estado abordou igualmente a questão da adoção por Portugal da taxa de tonelagem que a União Europeia concede ao setor dos transportes marítimos, considerando que sem isso dificilmente se reunirão as condições necessárias para apoiar o crescimento de empresas do setor.
"É uma questão que merece ser ponderada", apelou, propondo ainda a promoção de um debate que envolvesse empresas nacionais importadoras e exportadoras de matérias-primas para que compreendam a importância de apoiar a marinha de comércio nacional.