Passos Coelho está a ser alvo de uma técnica da tenaz para viabilizar o Orçamento de Estado. Depois das insistências de Cavaco e dos apelos socialistas, Manuela Ferreira Leite defendeu, em reunião do grupo parlamentar, que o PSD anuncie já tal decisão.
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A tese da ex-presidente do partido é que deve tornar público que viabiliza o OE ainda antes de o Governo apresentar a proposta. Essa será, segundo terá defendido na reunião da bancada, a única forma de o PSD usar o argumento do interesse nacional sem ficar comprometido com o conteúdo do documento.
A opinião da actual deputada foi revelada aos jornalistas por fontes sociais-democratas. Ferreira Leite recusou falar publicamente sobre o assunto. Igual atitude tomou o líder parlamentar, Miguel Macedo, ao recusar "falar sobre o que se passa nas reuniões da bancada".
No entanto, no plenário, Macedo deu uma resposta indirecta ao conselho da deputada. Em forma de interpelação à mesa, perguntou a Jaime Gama se já tinham chegado ao Parlamento os dados pedidos ao Governo sobre a execução orçamental do corrente ano. O presidente da República remeteu o deputado para a comissão de Orçamento e Finanças, a "primeira instância" a que reporta a Unidade Técnica de Apoio Orçamental, entidade que faz a avaliação da execução orçamental com base nos dados fornecidos pelo Executivo.
Miguel Macedo lembrou que o conhecimento dos dados de execução orçamental é uma das condições prévias, enunciadas pelo PSD, para determinar o sentido de voto em relação ao próximo orçamento.
Outro sinal de pressão interna sobre Passos Coelho surgiu pela voz do militante nº 1 do PSD. Francisco Pinto Balsemão, em declarações aos jornalistas à margem do VI Encontro da COTEC Europa, que decorreu na Casa da Música, no Porto, defendeu que o OE deve ter "o apoio do maior número possível de partidos" e "não resultar da teimosia de quem o propõe", acrescentando que "as consequências de não haver um orçamento obviamente se repercutirão sobre a economia real".
Do lado socialista, os apelos ao consenso em torno das contas públicas foram renovados por Francisco Assis. Aos jornalistas, para pedir uma atitude construtiva ao PSD, o líder parlamentar do PS recorreu às posições assumidas por Cavaco Silva em prol do compromisso e até lembrou o exemplo do "Bloco Central", que no passado juntou PS e PSD no Governo.