<p>No debate do programa do Governo, o primeiro-ministro chegou ao Parlamento a piscar o olho à Esquerda e saiu namorado pela Direita. Entre os dois momentos foi confrontado com responsabilidade política na corrupção. </p>
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O programa era demasiado conhecido e foi classificado Por Manuela Ferreira Leite como "uma ficção". Talvez por isso, José Sócrates destacou dois temas para seduzir a Esquerda: anunciou o alargamento das condições para atribuição do subsídio de desemprego, que já havia sido proposto pelo BE e pelo PCP, e reiterou a remoção de barreiras jurídicas ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Sem referendo e sem incluir a possibilidade de adopção por parte dos futuros casais.
Feitos os anúncios, que foram elogiados pelo líder do BE, José Manuel Pureza, o primeiro-ministro, que esteve no Parlamento com a mesma atitude de quem tem um rumo do qual não tenciona desviar-se, como se ainda fosse o líder de uma maioria absoluta, ouviu as críticas, iguais às que sempre ouvira antes de 27 de Setembro.
Manuela Ferreira Leite, que se estreou no Parlamento como presidente do PSD, foi dura na contestação que fez à orientação do Governo. Acusou Sócrates de não tencionar nem poder cumprir "as promessas eleitoralistas", de fazer "tábua rasa" da situação do país e disse que o programa "não é para levar a sério". O que é "preferível", disse, porque "se fosse executado seria uma ruína". Seguiu-se um tema, que não é novo, mas que o caso "Face Oculta" deu maior actualidade - a corrupção.
A acusação de que o Governo e o PS nada têm feito e nada prevêem fazer para combater a corrupção surgiu de ambos os lados do hemiciclo. Sócrates tinha anunciado, na abertura da sessão, a instituição de códigos de conduta, na administração pública e nas empresas, para prevenir a corrupção, mas à Esquerda, por António Filipe, do PCP, e Francisco Louçã, do BE, e à Direita, por Fernando Negrão e Pacheco Pereira, do PSD, as acusações de passividade sucederam-se.
Pacheco Pereira exigiu que fossem dadas por Sócrates explicações sobre "a responsabilidade política de ministros e secretários de Estado na nomeação de gestores e administradores de empresas públicas". O primeiro-ministro respondeu acusando o deputado de lançar suspeições sobre tudo e todos. Pacheco ficaria com a última palavra para avisar que o Parlamento vai escrutinar os actos da administração pública. "Vamos queremos saber como são negociados, e entre quem, os financiamentos das grandes obras públicas". Contra a opacidade e pela transparência, os socialistas foram desafiados a aprovar uma lei contra o enriquecimento ilícito, mas a impossibilidade de inverter o ónus da prova foi o argumento de Sócrates para recusar.
Antes de sair do hemiciclo, Sócrates, que disse já ter "notado que o CDS-PP não propôs apenas a suspensão da avaliação dos professores" (ler texto ao lado), ouviu um desafio para um acordo pela boca de Paulo Portas.
Já conhecido o "caderno de encargos" para o aprovar o Orçamento de Estado, Portas prometeu "fazer o que pudermos para manter os consensos essenciais", desde que, desafiou, o primeiro-ministro "dê os sinais certos". Enumerou-os e concluiu que "o ónus está do seu lado". Do lado de Sócrates, claro.
Além do chefe do Governo, falaram ainda a nova ministra do Trabalho e da Segurança Social, Helena André, que rejeitou a revisão do Código do Trabalho, prometendo apenas "atenção à sua aplicação, e os repetentes Vieira da Silva, que acusou a Oposição de ter "falta de humildade", e Teixeira dos Santos, que traçou o rumo para a política orçamental, centrado na manutenção das medidas de apoio à economia, controlo da despesa pública e não agravamento da carga fiscal. Ao mesmo tempo anunciou a criação, no Ministério das Finanças, de uma unidade operacional que terá por missão a negociação e gestão dos contratos de concessão relativos às parcerias público-privadas.