Em desacordo com Mota Amaral, que proibiu o uso das escutas pela comissão de inquérito, o PSD retirou os seus pedidos de audição, anunciou que não fará novas perguntas a José Sócrates e ameaçou usar "todos os elementos de prova" numa declaração de voto.
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De social-democrata para social-democrata, Pacheco Pereira acusou o presidente da comissão de inquérito à actuação do Governo na compra da TVI, de prejudicar o apuramento da verdade, ao ter elaborado um despacho no qual proíbe, por considerar inconstitucional, a divulgação das escutas telefónicas do processo Face Oculta, incluindo a inclusão de citações no relatório final.
Na qualidade de único deputado do PSD que leu os resumos das referidas escutas, Pacheco Pereira (acompanhado dos restantes deputados sociais-democratas da comissão), fez uma declaração na qual reafirma não ter dúvidas "da existência, em 2009, de uma operação política de carácter conspirativo de controlo de órgãos de comunicação social, desenvolvida com conhecimento do primeiro-ministro por quadros do PS nas empresas em que o Estado tem participação".
Sem poder confrontar os depoentes com provas que alegadamente constam das escutas, o PSD optou por retirar os pedidos de audição de José Ricciardi, João Carlos Silva, e Paulo Penedos, que já estavam marcadas.
A resposta de Mota Amaral não se fez esperar: cancelou as audições e respondeu publicamente ao PSD, dizendo que a comissão dispõe de "muitas diligências instrutórias, documentos e depoimentos que permitirão elaborar conclusões". "Não está, por isso, gravemente ferida".
Além disso, lembrando que assumiu as funções de presidente "com independência em relação aos partidos", Mota Amaral insistiu, nos termos do despacho que só ontem foi tornado público, que a Constituição "é uma barreira inultrapassável". E, no texto, exortou "os responsáveis do Estado de Direito" a "não fraquejarem no tocante ao integral respeito dos direitos dos cidadãos".
No PSD, o despacho caiu mal não só pelo conteúdo. Agostinho Branquinho, admitiu que não gostou de ter ouvido pela rádio a decisão de Mota Amaral. "Devia ter falado connosco", afirmou. A possibilidade de recorrer da decisão para o plenário da comissão, foi equacionada, mas o PSD arriscava-se a ser o único a votar contra.
A posição assumida pelo PSD permitiu ao líder parlamentar do PS, Francisco Assis, acusar os sociais-democratas de quererem "criar na opinião pública a ideia de que só não vão mais longe na demonstração da tese que sempre defenderam porque não podem". "É uma mera manifestação de desespero final daqueles que tiveram todas as oportunidades para demonstrar a sua tese e não o conseguiram, fingindo agora que foram impedidos de o fazer", disse.
O bloquista João Semedo, relator da comissão, considerou a atitude do PSD "desproporcionada". João Oliveira do PCP, o outro deputado que viu as escutas, não quis comentar, tal Cecília Meireles, do CDS-PP, para quem a questão "é interna do PSD".