O ex-presidente da Câmara do Porto Rui Rio considerou, esta quinta-feira, que "a administração central é gastadora e é incompetente" em comparação com as autarquias, ao intervir no lançamento de um livro sobre gestão dos municípios, em Lisboa.
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"Os municípios tiveram um papel absolutamente determinante no desenvolvimento do país nestes 41 anos", afirmou o antigo dirigente do PSD, acrescentando que o desenvolvimento concretizado pelos municípios foi "muito superior" ao gerado pela administração central.
O antigo autarca do Porto apresentou, na Universidade Católica Portuguesa, o livro "Princípios de Gestão para Municípios", coordenado por João Ralha, e hoje lançado no âmbito da conferência "Os municípios, a gestão e o crescimento económico".
Apesar de reconhecer "muitos erros", principalmente na área do urbanismo, Rui Rio destacou a evolução das cidades portuguesas, como Viana do Castelo, Porto ou Lisboa, mesmo com "grande parcimónia financeira" e com muito pouco endividamento.
"Se nós pegarmos no endividamento global das 308 câmaras, ainda assim o seu endividamento representa hoje 3% da dívida pública global", salientou o antigo autarca do Porto, frisando que "quem pôs o país no buraco foi a administração central, não foi a administração local".
Para Rui Rio, mesmo levando em conta a situação das câmaras mais endividadas, estas "não representam o todo" e "a média das câmaras foi muito melhor gerida do que aquilo que foi a administração central, porque desenvolveu mais e gerou menos dívida".
"A administração central é gastadora e é incompetente", disse o social-democrata, arrancando risos entre a assistência, composta por investigadores, autarcas e técnicos da administração pública.
Alguma responsabilidade poderá ser imputada aos autarcas, mas a administração central também não foi poupada porque "não foi capaz de controlar" o endividamento dos municípios, através de orçamentos mal feitos.
A responsabilidade pela rutura financeira de algumas autarquias deverá, assim, ser repartida pelos municípios, administração central e pela banca, vincou Rui Rio.
O antigo presidente da Câmara do Porto sublinhou depois o papel político do cargo que ocupou, mas realçou a importância de não se esquecer a gestão, como forma de alcançar a resolução dos problemas concretos do seu município.
Pegando no exemplo do Porto, tal como aponta no prefácio do livro publicado pela Universidade Católica Editora, Rui Rio defendeu que a sua experiência se baseou no assumir do papel de presidente do "grupo CMP [Câmara Municipal do Porto]", assente numa estratégia de solução "dos estrangulamentos" da cidade, mesmo à custa de não aprovar uma área comercial ou das acusações de não apoiar a cultura.
O coordenador do livro "Princípios de Gestão para Municípios", João Ralha, explicou que a obra partiu da sua tese de doutoramento sobre gestão nos municípios, mas reúne o contributo de especialistas em áreas como "gestão estratégica", "recursos humanos", "gestão da legislação", "projetos", "sistemas de informação" ou "análise de satisfação".
O lançamento da obra inseriu-se no âmbito da conferência promovida pela Alumni Association Católica-Lisbon, formada por antigos alunos da instituição universitária.