Rui Rio diz que crise portuguesa "não é económica, é, acima de tudo, política"
A crise que se abateu sobre Portugal "não é tanto económica, mas é, acima de tudo, uma crise política", defendeu quinta-feira à noite, no Porto, o presidente da Câmara Municipal desta cidade, Rui Rio.
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" A crise económica é uma consequência da crise política" e esta tem "30 anos" acrescentou o autarca.
Rio começou por aqui a sua conferência sobre o tema "Política e Economia: ideias para enfrentar a crise", integrada no projecto "Porto de Desafios", do Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto (ISCAP), no âmbito das comemorações dos 125 anos desta escola.
Na sua óptica, o actual regime democrático enfrenta uma longa lista de males e entre eles figuram uma "crescente incapacidade política, perda de governabilidade, um poder político fraco e desacreditado, interesses corporativos que são cada vez mais fortes e uma justiça incapaz".
Outros pontos fracos do regime são "uma comunicação social a quem quase tudo é permitido, um Estado gigantesco, uma notória confusão de valores na nossa sociedade e uma crescente hipocrisia de valores na nossa sociedade", que Rui Rio comparou ao que havia nos anos imediatamente anteriores ao 25 de abril de 1974.
"O ponto de partida para quebrar esta lógica é a questão do poder político", mas sendo este fraco "não é possível aspirar ao que quer que seja para melhorar o país", considerou, observando que poderes políticos frágeis dão origem a "poderes fácticos fortes"
Feito o diagnóstico, Rio propôs aqueles que do seu ponto de vista são os remédios apropriados para a "doença" e o primeiro deles é "prestigiar a política", para voltar a ter "credibilidade" junto dos cidadãos.
Isso implica "repensar os partidos políticos" e não por os "diabolizar", apontou.
Em segundo lugar, é preciso "criar legislação e formas de actuação que levam a que haja mais governabilidade" e neste ponto criticou as idas quinzenas do primeiro-ministro à Assembleia da República para prestar contas aos deputados.
"Em nome de quê e para que efeito?", perguntou acerca dessa prática, introduzida pelo anterior chefe do governo, José Sócrates.
Rio considera também que é preciso "definir bem o que queremos" do Estado e reformar a Justiçam mas avisou que "não há soluções para amanhã".
Questionado sobre se "com este povo" é possível realizar as reformas propostas, respondeu: "O povo não está mal, a forma como estamos organizados é que está mal" e por isso "tem que sofrer um ajustamento".
O autarca disse também que "ainda estamos a pagar a incapacidade do professor Marcelo Caetano" para fazer a transição política no final dos anos 60 do século passado, quando substituiu Oliveira Salazar na chefia do governo.