O ex-presidente da República Jorge Sampaio disse esta terça-feira esperar que a sua biografia possa fazer "renascer a esperança" e "convidar à ação" os jovens, por quem a sua geração se bateu pela Democracia.
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"O passado importa, mas sobretudo como vetor de esperança e de descoberta de futuros possíveis. É para fazer renascer a esperança e convidar à ação que espero que esta biografia sirva também junto dos mais novos, daqueles para quem a nossa geração se bateu pela democracia", afirmou Jorge Sampaio.
O primeiro volume da biografia do antigo presidente, escrita pelo jornalista José Pedro Castanheira, no culminar de cinco anos de investigação, foi apresentado esta terça-feira pelo ex-presidente da Gulbenkian Rui Vilar e pelo presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Se Rui Vilar recorreu às palavras de um antigo colega de escritório de advocacia de Sampaio para o resumir - "'português suave' mas com algumas fúrias" - António Costa serviu-se de metáforas desportivas, considerando que o antigo chefe de Estado é como um 'boxeur' que sabe que encostado às cordas só pode seguir em frente para "o combate", mas que é também como alguns futebolistas.
"Jorge Sampaio, tal como alguns jogadores de futebol, é um falso lento e tem uma extraordinária perceção de quais são os momentos decisivos, uma capacidade de antecipação, e revela-se sempre nesses momentos um líder extraordinário e um orador brilhante", considerou António Costa.
O presidente da Câmara de Lisboa enumerou alguns momentos em que essas capacidades de Jorge Sampaio se revelaram, desde a crise académica de 1962, à candidatura da secretário-geral do PS e à autarquia da capital, acontecimento com que o primeiro volume da biografia termina.
Segundo António Costa, "aquilo que muda com a candidatura à Câmara Municipal de Lisboa e daí para a frente é que Jorge Sampaio se liberta desta condição de figura política para se afirmar como figura nacional, uma figura popular".
Jorge Sampaio leu na biografia de José Pedro Castanheira, com quem colaborou, nomeadamente, entregando-lhe cópias dos seus cadernos de apontamentos pessoais, "o retrato de uma memorável época portuguesa, com as suas claridades e inevitáveis sombras, recuos e progressos, acordos árduos, desentendimentos e expectativas".
"Foi afinal, um saudável processo de recordação, que terá utilidade para as novas gerações, por explicar e descrever, com distanciamento e com a colaboração de testemunhos dos que viveram esse tempo inquieto, como uns e outros procuravam intervir, nem sempre a bem, mas com a responsável liberdade das suas opções, na construção da democracia", disse Sampaio.
"Desse retrato, que começa a preto e branco, ir ganhando outra complexidade, com as cores diferenciadas da difícil evolução política de um país em busca da consolidação democrática, fica-me o sentimento de que nada de relevo pode resultar de ações isoladas, mas, ao contrário, só pode derivar da junção de muitos esforços, de diálogos e de ação colaborativa", apontou.
Contudo, sublinhou, "as responsabilidades que, sendo partilhadas, não deixam de ser individuais", declarando: "Confesso que, no que me diz respeito, assumo por inteiro o lugar que foi o meu".