"Aqueles que pensam que me vencem desta forma estão enganados. Vou lutar para defender a minha honra e honestidade. Já passei por provas duras no passado ", reiterou, sábado, o primeiro-ministro, que chamou os jornalistas à Alfândega do Porto para repudiar as "insinuações" em torno do licenciamento do Freeport de Alcochete. Mesmo aquelas que chegam da sua própria família.
Corpo do artigo
José Sócrates começou pelo tio, Júlio Monteiro, que veio a público admitir ter sido intermediário em contactos entre o sobrinho (que tutelava o Ministério do Ambiente) e um empresário inglês ligado à promoção do projecto do Freeport, após este último ter-se queixado que lhe tinham pedido "quatro milhões de contos" para viabilizar o empreendimento.
"Tenho afecto e estima pelo meu tio. Mas nada tenho a ver com as actividades empresariais dele e dos seus filhos. Na nossa família, cada um assume as suas responsabilidades", limitou-se a afirmar o primeiro-ministro, garantindo não se lembrar ao certo - mas admitindo que tal possa ter acontecido - se teve alguma conversa com o tio em que este lhe tenha pedido para receber os promotores do projecto.
Relativamente a esse encontro, reiterou o que já tinha dito, anteontem, através de um comunicado. Que a reunião - a "única" em que participou - foi pedida pela Câmara de Alcochete e visou a apresentação das questões ambientais que tinham levado ao chumbo (por duas vezes) do projecto. "As decisões do Ministério do Ambiente obedeceram sempre ao mais estrito cumprimento da lei", frisou.
E, de novo, a família. Outro tema quente foi uma notícia do semanário "Expresso" sobre um alegado e-mail que um dos primos do primeiro-ministro teria enviado à Freeport a pedir uma contrapartida por ter possibilitado àquela empresa os contactos com o Governo. "Se esse mail existe - eu não o conheço - e invoca o meu nome, considero isso um abuso de confiança. Essa invocação é ilegítima e e inadmissível", respondeu José Sócrates. O primeiro-ministro disse, também, desconhecer um suposto DVD, que, segundo o semanário "Sol", contém uma gravação de responsáveis do Freeport a conversar sobre "luvas". "Se existe, é apenas um insulto, uma mentira e uma difamação".
Sócrates lamentou também as "fugas para a imprensa", realçando que a forma como estão a ser divulgadas diligências processuais configura uma "violação das normas e as leis, nomeadamente o segredo de justiça". Sócrates esclareceu, a propósito, que foi essa ideia que quis transmitir, quando, há dias, em Zamora (Espanha), disse estranhar que a divulgação de notícias sobre o processo coincida com anos de eleições (as primeiras surgiram em 2005). "Não estava a falar das investigações. Espero que sejam rápidas, para que possamos saber toda a verdade", insistiu.
Ainda ontem, fonte da Procuradoria-Geral da República adiantou, à agência Lusa, que as investigações estão em curso e que se deve "aguardar serenamente" pelos resultados.