O secretário-geral do PS desafiou, esta quinta-feira, o primeiro-ministro a defender junto da "troika" um ajustamento das condições de Portugal para o cumprimento do programa de assistência financeira, vincando que os sacrifícios não devem estar concentrados em dois anos.
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António José Seguro falava na abertura do debate na generalidade da proposta do Governo de Orçamento do Estado para 2012, depois da intervenção inicial do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho.
"O esforço que vai ser pedido aos portugueses, a violência dos sacrifícios, a iniquidade desses mesmos sacrifícios no próximo ano obrigará a uma abordagem inteligente da austeridade que vai ser proposta. Neste mês de Novembro, em que temos a visita da "troika", é importante que o Governo pondere a possibilidade de rever as condições a que estamos obrigados", sustentou o líder dos socialistas.
Para Seguro, "nenhum português compreenderá que, podendo os sacrifícios ser distribuídos por três anos, tenham de ser violentamente concentrados em dois anos".
"Como o primeiro-ministro afirmou, o esforço de redução [do défice] no próximo ano não é apenas de três mil milhões de euros, mas de sete mil milhões. Aqui está uma disponibilidade do PS para trabalhar pelo bem de Portugal e suavizar os sacrifícios das famílias e das empresas", disse ainda.
Além de um desafio ao Governo para que defenda um alargamento, pelo menos por um ano, dos prazos para o cumprimento do programa da "troika", o secretário-geral do PS apelou ao primeiro-ministro para que recue na decisão de cortas dois subsídios aos funcionários públicos e pensionistas, alegando a existência de uma folga no Orçamento do próximo ano em rubricas como os juros, as comissões a pagar à "troika", as cativações e consumos intermédios.
"Neste Orçamento há um estigma e uma violência sobre os reformados e os funcionários públicos, o que é inaceitável. Não somos os únicos, ouça o Presidente da República, os trabalhadores, a Igreja [Católica] e veja o parecer do Conselho Económico e Social (CES). É importante que o Governo não fique isolado e ouça", disse Seguro.
Na resposta, Pedro Passos Coelho recusou as estimativas orçamentais e contrapôs que o Orçamento do próximo ano não tem qualquer "almofada".
"Não estamos disponíveis para pôr em causa a meta do défice", frisou.
Depois, já no período de debate com o líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, Pedro Passos Coelho respondeu a uma das mais duras acusações antes feitas pelo líder socialista.
"Este Governo não tem - nem nunca terá - qualquer intenção ou acção que vise estigmatizar que seja que grupo for dentro da sociedade portuguesa. Não nos move nenhuma intenção nem relativamente a pensionistas nem relativamente a funcionários públicos, nem a trabalhadores ou desempregados. Sabemos que o país está numa situação de necessidade e de emergência para a qual todos têm de dar um contributo, e não conseguiremos voltar a crescer em Portugal sem primeiro reduzir o peso do défice", sustentou.