“Já vale tudo”, disse o primeiro-ministro José Sócrates na primeira reacção às suspeitas de condicionamento da liberdade de expressão por parte do Governo, considerando “lamentável” que os partidos, em particular o PSD, aproveitem “um acto criminoso e ilegal” para o atacar.
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Reagindo pela primeira vez à revelação de escutas do processo Face Oculta pelo semanário “Sol”, o primeiro-ministro começou por recordar que “o Estado de Direito pressupõe o respeito pelas leis e pelas decisões dos tribunais”.
Numa declaração aos jornalistas em Cantanhede, José Sócrates lamentou que nenhum partido tenha condenado a divulgação do semanário, que foi “um acto criminoso e ilegal”.
"Lamento que todos os partidos, todos sem excepção, não tenham tido o pudor de aproveitar o cometimento de um crime para com esse crime atacarem os seus adversários políticos e atacarem-me a mim em particular", disse.
"É um crime contra as pessoas e crime contra a justiça. Lamento que não tenha havido um único partido que tenha criticado esse crime, essa violação da lei, esse abuso por parte desses jornalistas", reiterou.
“Porque essas escutas como foram consideradas sem relevância criminal regressam ao domínio privado", acrescentou ainda.
“Mostra que para estes partidos já vale tudo. Isto é que é por em causa o Estado de Direito”, defendeu.
“Mantenho tudo o que disse no Parlamento. Todos aqueles que referem uma ligação do Governo à PT para a compra de uma estação de televisão estão a faltar à verdade. Nunca o Governo deu nenhuma orientação à PT para comprar nenhuma estação de televisão", afirmou José Sócrates, à margem da inauguração de um parque tecnológico.
Retomando as críticas aos partidos, José Sócrates denunciou a “falta de princípios”, acrescentando que “o PSD nunca aceita o resultado das eleições”.
"O que o PSD hoje diz não é apenas para me atacar a mim, é para atacar as decisões do senhor Procurador-Geral da República e do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça", afirmou.
"Não há nenhum organismo político que se substitua àquilo que são competências da justiça. Se alguns dirigentes do PSD não estão satisfeitos com as decisões judiciárias, cumpre-lhes acatá-las e respeitá-las", afirmou.
“É lamentável que um político tenha de lembrar os outros da separação de poderes”, concluiu José Sócrates.