Quem, entre os socialistas, se preparava para desembainhar a espada vai ter de aguardar melhor ocasião. O esforço de António José Seguro por esse país fora em campanha destruiu a estratégia dos que apostavam na comparação entre a performance de António Costa em Lisboa e o score nacional do PS. E inibe o autarca de Lisboa se se abalançar, no imediato, a voos mais altos.
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As grandes mudanças no mapa autárquico nacional: Rui Moreira vence no Porto. Costa arrasa em Lisboa. Guilherme ganha em todas as freguesias de Matosinhos. Gaia volta a ser do PS. Gondomar conquistada pelos socialistas. Braga passa para as mãos do PSD. PS ganha Vila Real ao fim de quatro décadas. Coimbra regressa à liderança do PS. Guarda vai pela primeira vez para o PSD. Ribau ganha em Aveiro.
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Os socialistas alcançaram o melhor resultado de sempre - que em número de votos representa um gigantesco "cartão amarelo" ao Governo e em número de municípios a garantia de que indicam o sucessor de Fernando Ruas na Associação Nacional dos Municípios.
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É substancial, embora não esmagador. Porque se o PS deu uma "goleada" em Lisboa (de longe o melhor resultado do partido em candidatura própria na capital) e afastou os social-democratas do poder que sempre detiveram em Vila Real, perdeu duas "joias da coroa": Braga e Guarda. E, como veremos mais adiante, foi o maior contribuinte líquido para a noite de glória que do PCP.
O reverso da medalha é, naturalmente, o refluxo do PSD, cuja profundidade estava longe de se adivinhar. Os indícios da derrota de Luís Filipe Menezes no Porto, esses, eram percetíveis nas últimas sondagens. Mas ela abateu-se de forma fragorosa sobre o universo laranja. Porque a figura de Rui Rio reemerge como alternativa potencial a um Passos Coelho fragilizado pela magnitude do insucesso de ontem. E porque o vencedor, Rui Moreira, era assumidamente apoiado pelo CDS, como sem rebuço sublinhou Paulo Portas.
É preciso recuar até ao primeiro mandato do poder local em democracia (1977-1980) para encontrar um cenário em que o PSD não está no poder simultaneamente em Lisboa, Sintra, Gaia e Porto, os maiores concelhos. E, ontem, o partido também foi desalojado de cidades como Portalegre, Coimbra, Vila Real, ou Paços de Ferreira, cuja câmara era liderada pelo presidente dos Autarcas Social-Democratas.
De pouco valeram as alianças com o CDS no Continente. Na Madeira, a tradicional estratégia isolacionista de Alberto João Jardim ruiu como castelo de cartas. Restam ao PSD regional quatro câmaras. E entre elas não estão as principais cidades.
O segundo vencedor da noite é a CDU. O Alentejo volta a estar predominantemente pintado de vermelho, graças à (re)conquista de Beja, Évora, Alcácer do Sal, Cuba, Vila Viçosa e Monforte aos socialistas. A que se soma Loures, regressada à órbita comunista pela mão do líder parlamentar do partido, Bernardino Soares.
O CDS, hábil no jogo duplo - de parceria com o PSD e de separação de águas, em alguns municípios - multiplica por cinco o número de câmaras, um êxito assinalável. Recuperar Albergaria-a-Velha e Vale de Cambra já é proeza assinalável. Juntar a madeirense Santana e a açoriana Velas, então, é notável. Tudo câmaras governadas pelo PSD, que deve ao aliado governamental as derrotas no Porto e na Covilhã, para citar apenas dois casos.
Sem honra nem brilho - e com um discurso desproporcionado para a ocasião - o Bloco desaparece do mapa autárquico. Salvaterra já era. E João Semedo não entra na vereação de Lisboa.