Eram 8.00 horas quando o telefone tocou em casa de Catarina Cunha, 10 anos, de Valongo, a dar a boa nova de que tinha sido uma das premiadas pela iniciativa "Regresso às Aulas".
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A notícia chegou primeiro à mãe, Maria Fernanda Ferreira, pela voz de uma vizinha. "Ligou-me a perguntar o nome completo da minha filha, disse-lho e a resposta foi "a tua filha ganhou". Fiquei sem reação, arrepiada e fui acordar a Catarina. Começou aos gritos e agarrou-se a mim toda feliz", conta a progenitora, avançando que a jovem sempre teve "umas notas excelentes".
"Acho que já nasceu com a força de vontade de fazer mais e mais e quer chegar longe. Espero que essa força nunca acabe, porque vai ser muito importante para ela no futuro. É muito importante gostar de estudar", revela a mãe.
Com os 500 euros em vale de compras Staples, a prioridade de Catarina Cunha foi a aquisição de material escolar em grande quantidade, tanto mais que no 5.o Ano vai precisar de muito mais.
"Lápis e cadernos bons"
E a verdade é que nem pensou em ter um computador novo. "Sem dúvida que não. A primeira coisa que pensei foi em lápis e cadernos bons", diz a estudante, que apesar da juventude já traçou um plano a longo prazo. "No futuro quero estudar medicina para ser uma médica muito profissional", diz resoluta, anotando a "importância de estudar".
E Catarina até dá dicas aos colegas: "Digo para estudarem muito para mais tarde serem alguém na vida, tirarem um curso bom e trabalharem".
Mas a vida desta aluna não é só estudo. "Gosto de andar de bicicleta, ver televisão. Essas coisas. No computador não perco muito tempo. E também gosto de ler", acrescenta, apontando o livro "Uma Aventura na Serra da Estrela", como o preferido.
"Vou fazendo as contas a ver se o dinheiro dá"
O rendimento mensal de Maria Fernanda, 54 anos, mãe da Catarina é praticamente inexistente. Desempregada e sem qualquer subsídio, mãe e filha sobrevivem graças à pensão de alimentos e ao abono da jovem, o que feitas as contas pouco mais dá do que 100 euros. Por essa razão, os vales de compras do Pingo Doce não poderiam ter chegado em melhor altura.
"Vem dar muito jeito, pois já posso comprar peixe para a minha filha, pois é muito caro. E alguma carne variada e melhor. A nível de alimentação e produtos de higiene também, pois não podia comprar em grande quantidade. Tinha de ser pouquinho de cada vez", explica Maria Fernanda.
A principal preocupação desta mãe é o bem-estar da filha, mas nem sempre lhe conseguia satisfazer os pedidos. "Às vezes ela dizia-me que lhe apetecia um camarãozinho... Mas não há dinheiro para isso. E outras coisas que ela me pedia e não lhe podia dar. Graças a esta iniciativa vou conseguir mimá-la mais um bocadinho", diz a progenitora, que semanalmente gasta entre 15 e 20 euros com a alimentação.
De vez em quanto até gasto mais do que o que pode. "Fico sem dinheiro, mas tem de dar para a minha filha", continua Maria Fernanda, que na hora das compras procura sempre a opção "mais barata".
"Vou fazendo as contas a ver se o dinheiro dá. Se der compro, senão posso até comprar, mas o mais barato possível ou então avulso e menos quantidade. Tem de se poupar e o dinheiro tem de dar para tudo", conclui.