O homem acusado de balear o patrão por ciúmes garantiu, esta quarta-feira, no Tribunal de Fafe, que "nunca" teve intenção de matar, que não tem ideia de ter disparado e que nem sequer ouviu qualquer ruído de tiros.
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O arguido, viúvo, de 46 anos, trabalhava numa fábrica de calçado em Felgueiras, tal como a sua namorada, mas entretanto começou a "desconfiar" de que o patrão teria um "caso" com a companheira.
As suspeitas foram-se adensando, até que, a 28 de outubro de 2011, o arguido decidiu tirar as dúvidas, deslocando-se, perto das 23:00, à casa da namorada.
Avistou o carro do patrão das imediações e, como hoje confessou em tribunal, entrou "em paranoia".
"Foi como se tivesse caído uma bomba em cima de mim. A cabeça já não funcionava, já não era eu que estava ali", referiu, emocionado, ao coletivo de juízes.
Lembrou que há cerca de um ano tinha perdido a mãe e a esposa e, por isso, "não queria acreditar" que "aquilo" lhe estivesse a acontecer, porque de sofrimento já tivera a sua conta.
No dia dos factos, e após gritos e pontapés na porta, a namorada deixou-o entrar na casa dela, onde também se encontrava o arguido, que numa primeira fase ficou "escondido".
Pouco depois, arguido e patrão envolveram-se em confrontos físicos, que continuaram no jardim da habitação.
Segundo a acusação, o arguido puxou de uma pistola e disparou dois tiros, o primeiro dos quais atingiu o patrão na zona abdominal.
Depois, terá tentado disparar um outro tiro em direção à cabeça do patrão, mas este conseguiu evitar ser atingido naquela zona, acabando por sofrer ferimentos numa mão.
No final, o arguido meteu-se no carro e foi embora para casa, mas na viagem deitou a arma ao rio, uma atitude que justificou com o facto de não se sentir por "ter puxado" da pistola e, de por isso, não querer repetir aquele gesto nunca mais.
Em casa, a filha viu que ele tinha sangue na roupa e foi aí que tomou consciência "de que algo tinha acontecido", pelo que se foi entregar à GNR.
O arguido responde pelos crimes de homicídio na forma tentada, detenção de arma ilegal e ainda injúrias, pelos impropérios que terá dirigido ao patrão.
Na sequência das suas declarações em julgamento, o advogado de acusação requereu que seja também pronunciado pelo crime de omissão de auxílio.
Hoje, na primeira audiência do julgamento, o arguido disse que apenas quis "assustar" o patrão, para que ele se afastasse da sua namorada, afirmando repetidamente que nunca teve intenção.
"Não sou capaz de matar um pardal, quanto mais um homem", referiu.
Confessou-se "ciumento", disse que tinha o patrão como "uma pessoa cinco estrelas e como um amigo" e que "confiava nele", até porque ele era das poucas pessoas que sabiam da sua relação amorosa.
"Perguntei-lhe se ele andava com a minha namorada e ele sempre negou, sempre me disse que não queria os meus restos para nada", afirmou.
Quanto à arma, disse que a comprara depois de ter sido vítima de dois assaltos, no carro.
Confessou mesmo que a comprou a um dos homens que o tinha assaltado.
Na sequência do incidente com o patrão, foi despedido, um despedimento que impugnou judicialmente, considerando que não houve justa causa, já que, como disse, "o que se passa fora da empresa não tem nada a ver com o que se passa lá dentro".
Está em prisão domiciliária, com vigilância eletrónica.
Entretanto, o namoro acabou, mas a antiga companheira "continua a ir a casa" do arguido, para o ajudar nas lides domésticas.