A Polícia Judiciária vai sofrer um corte nos combustíveis superior a 76%, uma decisão governamental que pode reduzir drasticamente a capacidade operacional desta Polícia de investigação, soube o JN.
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A informação está inserida no Orçamento do Estado para 2014 e aquela que é tida como uma unidade policial de escol vai ficar reduzida aos níveis da ASAE ou do SEF, que têm um quarto dos investigadores.
Foi uma verdadeira "prenda governamental" para a PJ, que ontem comemorou os 68 anos, com uma cerimónia realizada na sua Escola, em Loures. O orçamento total para bens e serviços foi cortado em 51,4% e ninguém do Executivo apareceu na cerimónia - a ministra da Justiça porque estava doente e o secretário de Estado, que a ia substituir, também não foi. E antes mesmo da cerimónia começar, a direção da PJ teve que arranjar alguém para compor a desfalcada mesa. Antero Luís, secretário-geral do Sistema de Segurança Interna, foi o convidado, mas muitos setores da Judiciária ficaram boquiabertos. "É a primeira vez que uma coisa destas sucede", foi um dos comentários.
A PJ, que em 2013 tinha um orçamento superior a 1,8 milhões de euros para combustíveis, desce para pouco mais de 426 mil euros, o segundo valor mais baixo dos últimos nove anos, soube o JN. Em 2006, chegou aos 321 mil euros, num corte também geral, que conduziu à demissão do então diretor da PJ, Santos Cabral. O SEF, pelo contrário, da Administração Interna, subiu no orçamento de 2014 de 450 mil para 452 mil euros e o corte geral ficou-se por 12,5%.
Foi pois um ambiente de alguma tensão e incerteza que rodeou a cerimónia, até porque dos 150 louvores que iam ser distribuídos só apareceram 36 inspetores a recebê-los. Em alguns casos, os homenageados estavam em serviço, mas noutros não foi bem assim.
No caso da UNCT, nenhum dos investigadores do processo do "Rei Ghob" apareceu e quanto aos envolvidos na solução do rapto do inglês James Ross, no Algarve, só dois inspetores estiveram na cerimónia. No Combate ao Tráfico de Droga, dos 16 elementos da secção que mais droga apreende, apenas apareceu um inspetor. Também só um inspetor do Combate à Corrupção compareceu.
Carlos Garcia, presidente da ASFIC, diz que os cortes "podem conduzir a uma redução da operacionalidade. Temos que ter condições de trabalho, novos estatutos e progressão nas carreiras", disse, ao JN, enquanto inspetores vestidos de negros distribuíam uma carta aberta dirigida à ministra da Justiça e à direção da PJ, denunciando as lacunas.
O próprio diretor nacional, Almeida Rodrigues alertou para a necessidade de "reforço da dotação orçamental" para promoções, atualização de piquetes e prevenções.