Chegaram cedo e encheram a sala de audiências do Tribunal. Familiares de vítimas e sobreviventes mantiveram-se atentos à leitura, quase exaustiva, do acórdão de dezenas de páginas.
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Fernando Silva, que perdeu a mulher no acidente, estava sentado na primeiro fila, o lugar que ocupou desde o primeiro dia do julgamento. Nunca conteve as lágrimas e no final da audiência, foi abraçado pelo também emocionado motorista do autocarro. Apesar de todo o sofrimento, Fernando sempre disse que não queria que "nenhum deles fosse para a cadeia".
João Candeias também perdeu a mulher no acidente. Percebeu mal a decisão da juíza e questiona os jornalistas. Os olhos enchem-se de lágrimas e diz "está feita justiça". "Eu até pedia a absolvição dos dois porque foi uma coisa involuntária, mas eles lá sabem o que decidiram", revela.
Inconformada estava Ilda Tavares, um das sobreviventes do acidente. "Foi uma injustiça para a rapariga, pois o motorista vinha a conversar e a olhar sempre para trás", afirmou Ilda. "Ele é tão culpado como ela", afiança.
As opiniões continuaram a divergir já do lado de fora do tribunal. "Acho que ambos deviam ser culpados pois os dois tiveram culpas, por isso não fiquei nada satisfeito e acredito que as famílias também não ficaram", afirmou ao JN um dos muitos populares que se concentrou à porta do tribunal.
A maioria ainda estava com dúvidas sobre a decisão dos juízes e só depois de esclarecidos pelos jornalistas quiseram opinar. Mas mantendo sempre o anonimato, afinal "não temos nada a ganhar nem a perder com isto".
Um dos residentes na cidade admitia que sente "chocado" com o facto de "17 mortes darem apenas quatro anos de prisão". Mas compreende que a condutora "não é nenhuma criminosa", que "apenas cometeu um erro".
Um dos populares que entretanto se junta ao grupo lembra que Carina é professora e que "por ter de andar sempre de um lado para o outro não deve descansar o suficiente". "A culpa não é dela mas sim dos chefes que a obrigam a andar de um lado para o outro", justifica.
Um outro residente lembra que "as dúvidas subsistem" quanto ao acidente. "Não se sabe se o motorista do autocarro invadiu ou não a faixa do carro, mas ele se calhar poderia ter evitado o segundo embate", reforça o popular, antes de concluir: "Agora há que esquecer tudo isto e continuar com a vida para a frente".