<p>Por causa do dinheiro das reformas e por darem "trabalho", uma mulher, de 66 anos, e o seu filho deficiente, de 40, foram mantidos em cativeiro durante 14 meses por outro filho e pela esposa. Foram libertados após denúncia à GNR.</p>
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Garantem alguns vizinhos que o caso era do conhecimento das autoridades e que "nunca ninguém fez nada". A verdade é que Jacinta e o filho há quase dois anos que não eram vistos pelas ruas de Fajarda de Cima, no concelho de Coruche.
"As técnicas da Segurança Social vinham aí e eram logo postas fora pela família", assegura um dos vizinhos explicando que Jacinta antes de ter sido obrigada a permanecer num anexo da sua habitação chegou a pedir comida. "Ela veio aqui umas duas ou três vezes pedir comida porque a família não lhe dava nada" conta uma das vizinhas assegurando que a idosa contava que o outro filho e a nora "lhes batiam".
As vítimas começaram por viver sozinhos na moradia, que foi reconstruída com a ajuda da Segurança Social, segundo vizinhos confidenciaram ao JN. Foi só quanto o outro filho, de 42 anos, canalizador da Câmara de Coruche, se mudou-se com a mulher e quatro filhos para a casa que o inferno começou. Terá sido a partir desta altura que a mãe e o irmão, deficiente mental profundo foram obrigados a mudar-se para um pequeno anexo da casa e aí mantidos em condições desumanas.
O casal foi detido pela Unidade Nacional Contra o Terrorismo (UNCT) da Polícia Judiciária (PJ), na tarde de anteontem, e serão presentes hoje de manhã ao juiz de instrução do Tribunal de Coruche para aplicação das medidas de coacção. São suspeitos da prática dos crimes de rapto, extorsão e violência doméstica.
A idosa encontra-se internada no Hospital Distrital de Santarém devido ao estado de "profunda subnutrição". O filho está já numa instituição de solidariedade social do distrito.
Irmão denunciou
Há alguns dias que o irmão de Jacinta não a conseguia visitar nem ver o sobrinho. Desconfiado de que alguma coisa estivesse a acontecer, decidiu passar pelo Posto da GNR e contar as suas desconfianças. Os militares foram tentar perceber o que se passava na habitação. A recepção não foi das melhores e, perante a suspeita de um crime de rapto, o caso foi comunicado à PJ.
É difícil descrever o ambiente em que estas pessoas viveram durante 14 meses. Luís Neves, director da UNCT, assegura que mãe e filho foram encontrados manietados num espaço sem possibilidade de se deslocarem para o exterior. As portas estavam fechadas com grades e correntes. As vítimas foram sujeitas "a constantes maus tratos físicos e psíquicos e mantidos em estado de carência absoluta de cuidados higiénicos ou médicos e de profunda subnutrição".
"Não sabíamos ser possível encontrar pessoas nestas condições", frisou o responsável.
Dois casos que chocaram o país
Sequestrado em barracão
Um homem de 74 anos foi mantido durante vários meses aprisionado dentro de um barracão em Grenho, concelho de Benavente. O espaço localizado dentro de um quintal com muros altos, estava fechado a cadeado. A GNR de Coruche, em Dezembro de 2006, libertou o homem e deteve o filho e a nora. O idoso que vivia em condições degradantes e com a roupa impreganada de fezes e urina foi acolhido na Santa Casa da Misericórdia. O caso foi denunciado por populares que viram um dos suspeitos a deixart um prato de comida no barracão.
Condenados a prisão
Três homens da mesma família foram condenados, em Junho de 2008, no Porto, a seis anos de prisão por crimes de sequestro agravado e maus-tratos em que a vítima foi um cego, que de dia era obrigado a mendigar, e à noite era fechado a cadeado num barraco. Outros dois acusados, também do mesmo agregado (mãe e filho), foram punidos com penas de prisão suspensas. Os juizes deram como provado que os arguidos , aproveitando-se da deficiência física e fragilidade emocional do homem hoje com 48 anos, invisual desde os 19, para o colocarem, contra a vontade dele, a pedir esmolas em diferentes zonas do país, retirando-lhe depois o "apuro". A familia vivia num acampamento cigano da zona do Freixo, no Porto. O invisual, então na Figueira da Foz, foi forçado a entrar numa viatura e levado para o Porto. Foi colocado a pedir esmolas em diversos concelhos, sempre "acompanhado e controlado à distância" por alguns dos arguidos.