Cerca de dois anos após a abertura da investigação do BPP, as autoridades foram a casa de ex-administradores do banco, ontem, na busca de provas de actividade criminosa. Os inquéritos estão na fase final, mas ainda não haverá despachos de acusação este ano.
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As buscas não incidiram só em residências e escritórios do fundador do Banco Privado Português, João Rendeiro, e dos (também) ex-administradores Paulo Guichard, em Vila Nova de Gaia, Salvador Fezas Vital e Fernando Lima.
Segundo apurou o JN, entre o princípio da manhã e cerca das 21 horas foram realizadas cerca de 20 buscas. Duas tiveram por alvo outros tantos escritórios de advogados. Houve também diligências em casa de familiares de arguidos.
A acção foi levada a cabo pela 9ª Secção do Departamento de investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa, dirigida pela procuradora Teresa de Almeida, e coadjuvada pela Polícia Judiciária.
Estão em causa três inquéritos criminais - o principal resulta da acção desencadeada pelo DIAP e pela Comissão de Mercados de Valores Mobiliários, os outros de queixas-crime de clientes do banco - e são investigados crimes de abuso de confiança, infidelidade, fraude fiscal e burla qualificadas, branqueamento de capitais e falsificação, entre outros.
Uma vida (a)normal
João Rendeiro estava ausente da sua luxuosa moradia em Cascais, quando ali chegaram as autoridades. Sujeito apenas a termo de identidade e residência (TIR), o ex-banqueiro estava no estrangeiro.
É mais um sinal da aparente normalidade com que tem levado a sua vida, depois de centenas de clientes do banco terem perdido o dinheiro que lhe confiaram, ou de o Estado injectar 450 milhões de euros na instituição. Esta está em processo de falência e o Estado arrisca-se a perder aquele dinheiro, se não conseguir vender os activos do grupo criado por Rendeiro ao preço a que estes foram dados como contra-garantia.
As investigações do DIAP já entraram na recta final. Nas últimas semanas, vêm mesmo sendo realizadas diligências, entre elas muitas audições de testemunhas, praticamente todos os dias.
Porém, a análise da informação entretanto recolhida, a complexidade e a aparência de legalidade que os ex-gestores do BPP se preocupavam em dar aos seus esquemas financeiros dificultam o trabalho dos procuradores do DIAP e devem remeter a conclusão dos inquéritos para 2011.
Até agora, só é conhecida publicamente a identidade de quatro arguidos: João Rendeiro, Fezas Vital, Paulo Guichard e Mário Sampaio, este último um accionista da Privado Holding que serviria de testa-de-ferro de fundador do BPP em operações em paraísos fiscais.
No entanto, o JN sabe que, antes das buscas de ontem, também já havia outros arguidos, entre os quais um advogado do escritório de José Miguel Júdice. Ontem, terão ganho aquele estatuto, pelo menos, os advogados que foram alvo de buscas.