O antigo ministro Armando Vara, arguido no processo Face Oculta, foi confrontado com "várias contradições" encontradas pelo Ministério Público entre as declarações prestadas durante a fase de interrogatório, em Novembro de 2009, e agora em tribunal.
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O ex-ministro reafirmou que o pedido que fez a Paiva Nunes, administrador da EDP imobiliária, também arguido neste processo, para receber Manuel Godinho, foi uma diligência da sua iniciativa, ao contrário do que referiu na fase de inquérito.
"Não vejo uma grande contradição", disse Vara, acrescentando que esse encontro terá sido induzido pela conversa com Manuel Godinho, onde este se lamentou de também estar a ter "dificuldade na EDP" e que, provavelmente, teria de "despedir 100 pessoas".
Armando Vara afirmou ao tribunal que foi então que se lembrou de apresentar Godinho a Paiva Nunes, com quem tinha uma relação de conhecimento próximo, para "saber o que se passava".
O juiz Raul Cordeiro confrontou o arguido com outra alegada contradição relacionada com a forma como teve conhecimento do acórdão da Relação do Porto no processo que opunha a 'O2', de Manuel Godinho, à Refer.
Na fase de instrução, o ex-ministro afirmou não ter tido acesso ao texto do acórdão e, agora em audiência, declarou que tinha recebido um envelope com a cópia do referido acórdão durante um almoço em casa de Manuel Godinho, em Ovar.
Vara começou por dizer que não se lembrava deste episódio, mas acrescentou que acabou por se lembrar depois de ter visto toda a matéria, na fase de instrução.
O ex-ministro justificou este esquecimento, argumentando que o depoimento no Juízo de Instrução Criminal (JIC) de Aveiro foi feito "em circunstâncias muito difíceis" para si.
O procurador do Ministro Público, Marques Vidal, realçou que as declarações do arguido no JIC foram as segundas perante o juiz e que o arguido e os seus advogados tiveram nove dias para examinar o processo com acesso às escutas.
O interrogatório a Armando Vara terminou cerca de 16.00 horas e, após um curto intervalo, o colectivo de juízes começou a ouvir o depoimento do ex-presidente da REN, José Penedos, também arguido neste processo.
O caso 'Face Oculta', que começou terça-feira a ser julgado no Tribunal de Aveiro, tem 36 arguidos (34 pessoas e duas empresas) e está relacionado com uma alegada rede de corrupção que tinha como objectivo o favorecimento de um grupo empresarial de Ovar ligado ao ramo das sucatas nos negócios com empresas do sector empresarial do Estado e privadas.